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sábado, 8 de junho de 2019

Sobre a condição humana e seu auto engano (por Acioli Junior)

Ninguém é de fato a mesma coisa o tempo todo. Como dizia Raul Seixas: "somos uma metamorfose ambulante". Capaz de mudar com o tempo, com as perdas, com as inúmeras decepções, com a experiência e com a maturidade.

Ninguém consegue ser 100% ateu. Ninguém consegue ser um crente convicto o tempo todo. Assim como ninguém consegue viver na dúvida constante (o cético) a vida inteira. Como ninguém consegue viver em cima do muro feito um agnóstico eternamente.

Você que se declara descrente, pode até o ser a maioria das vezes. Nunca o tempo inteiro. Como você que se declara cheio de fé. Só usa a fé a maioria do tempo. Nunca o tempo inteiro. Pois de vez em quando sua descrença inveja até o mais incrédulo dos homens.

A natureza humana é por demais frágil, fugaz, incoerente, débil, inconsequente, mesquinha e muitas vezes vil; para que um homem experiente como eu, acredite que exista seres humanos o tempo todo coerente em relação às suas crenças, ideologias, convicções e personalidade.

É impossível que ateus famosos e propagadores dessa ideologia, como Karl Marx, Sartre, Nietzsche e até o príncipe moderno do ateísmo e seu principal divulgador nos dias atuais, Richard Dawkins, seja um incrédulo convicto o tempo todo. Inúmeros acidentes, incidentes, decepções, apertos, doenças e a própria contemplação majestosa de uma natureza exuberante, faz qualquer um pensar na existência de um Poder Superior e questionar a sua incredulidade.

Até o nascer do sol, o nascimento de uma criança e o céu estrelado numa noite escura faz-nos refletir sobre questões metafísicas e se perguntar: quem foi capaz de gerar essa vida, quem criou esse sol majestoso, esse cosmo infindo e essas estrelas magníficas. É impossível qualquer pessoa por mais incrédula que seja, não duvidar de sua descrença em momentos como os descritos acima e em muitos outros.

Da mesma forma que os papas, os santos, os antigos profetas, os pregadores eloquentes e as irmãs pentecostais do círculo de oração não são crentes convictos o tempo todo. A bíblia, a história e a mediocridade e fraquezas humanas atestam essa verdade indubitável. Não existem super heróis da fé. Existem pessoas falhas, doentes, problemáticas e esperançosas que tentam em meio às dores e circunstâncias adversas da vida manterem sua fé. Mas a fé, assim como a descrença numa deidade é impossível mantê-la o tempo todo. Só os hipócritas metidos a super crentes passam a ideia de possuírem uma fé inabalável por todo tempo.

A murmuração, blasfêmia e reclamações infindas a Deus em momentos de dor, doença, da morte de um ente querido, da própria comiseração (ter dó de si mesmo) atestam que ninguém possui uma fé inabalável.

Lembrando que o famoso profeta Elias, que desafiou o rei Acabe, os 450 profetas de Baal, e fez segundo o Livro de Reis fogo cair do céu, além de fazer a terra por meio de sua profecia ficar 3 anos e seis meses sem chover, foi ele mesmo que se escondeu deprimido numa caverna e experimentou uma crise profunda, a falta de fé e de perspectivas.

Assim como o rei Davi, o homem "segundo o coração de Deus" cometeu pecados terríveis como um adultério e ainda tramou a morte do marido de sua amante.

O medo, a dor, a traição, o desamor, o tempo, preces não ouvidas ou não atendidas são capazes de fazerem supostos heróis e heroínas da fé, se tornarem os maiores murmuradores e blasfemos da história.

A vida vez por outra em sua contingência, surpresas e momentos de dor e amargura profunda arma ciladas para os ditos ateus racionais e cheios de si, para os chamados crentes e "homens de Deus", para os céticos em sua arrogância em contestar toda e qualquer "verdade" e arranca os agnóstico de cima de seus murros e pedestais da indecisão.

Nenhuma incredulidade é eterna. Eterno é o discurso mentiroso, ilusório e descabido de que uma criatura pequena, frágil e controversa como somos nós seres humanos, ficaremos firmes em nossa descrença e inafetáveis por toda a nossa vida.

Toda fé é abalável. Não existe fé inabalável como uma rocha. Pois uma criatura que se perturbar tão facilmente como nós humanos e que vive em crises afetivas, familiares, psíquica e convive com a dor da perda e a degradação de seu próprio corpo pelo tempo e pelas experiências nefastas da vida, não pode ter uma fé firme e triunfante a vida inteira. Vez por outra sua fé se tornará menor que um grão de mostarda e você se sentirá menos importante que uma poeira cósmica.

Vamos parar de autoengano. Vamos deixar de mentir a si mesmo e ao próximo. Quem tem um pouco de experiência de vida e se conhece sabe que as nossas convicções são meras palavras levadas pelo vento e um grande teatro para impressionar a plateia de leigos da condição humana.

A realidade do que somos deve retirar de nós a máscara do autoengano e da vontade de querer dá uma de Superman.

No fundo, lá no fundo: filósofos, cientistas, profetas, papas, pastores, artistas e grandes esportistas são só humanos. E ser humano é ser gente fraca, complicada, doente, incoerente, cheia de traumas e perdas irreparáveis na vida. Ninguém é super herói, só gente digna de compaixão e cheia de si e de falsas convicções!


Obs.: Esse texto tem o objetivo de mostrar a real condição humana. Suas fragilidades, frustações, suas dicotomias e finitude. Foi escrito em 11/04/2019, inspirado na história de uma pregadora evangélica que num momento de enfrentamento de problemas e crises normais da vida questionou a Deus e murmurou contra Ele. Ao ouvir essa história da mãe dessa pregadora, eu me inspirei para escrever esse excerto.

 

 

 

 

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