O presidente da República do Brasil chamou o educador e filósofo
brasileiro que também é patrono da educação[1], Paulo Freire, de
energúmeno[2] e ainda disse que as
baixas notas de estudantes no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes
(PISA) era culpa de seu método de ensino.
Segundo o dicionário
Priberam[3], a palavra energúmeno significa pessoa possuída pelo
demônio (possessa), pessoa exaltada, desequilibrada por paixão, obsessão,
intolerante e desatinado.
Até os críticos de alguns pontos da teoria de Paulo Freire, obviamente
aqueles que de fato leram-no, esses não são o presidente da República e seus
seguidores apaixonados que não possuem nem a capacidade cognitiva para lê-lo,
nunca usariam tão baixo adjetivo para descrever uma pessoa de suma importância
no campo educacional do Brasil e do mundo.
Paulo Freire foi o contrário de tudo que a palavra energúmeno significa.
Era cristão apaixonado pelos pobres e oprimidos!
Em 1963, criou um método de ensino fantástico capaz de alfabetizar 300
alunos adultos em 40 horas, fez educandos lerem, escreverem e verem a vida de
maneira crítica e se reconhecerem como sujeitos de sua história.
Apesar de conhecer as obras de Paulo Freire, como educador, tenho o
objetivo de continuar lendo-o, por isso posso garantir que a fala do presidente
da República, do ministro da Educação e do guru da Virgínia nada mais é que
ignorância de quem nunca leu uma página do que Freire escreveu e teorizou.
Alguns lugarejos brasileiros tiveram-no como base pedagógica em
princípio em 1963, um ano antes do golpe militar e depois, nos anos 90, houve
algumas poucas tentativas, pois sua pedagogia do oprimido foi proibida nos anos
de chumbo da Ditadura Militar, e ele teve que ser exilado para não morrer. Então
o que os incultos desconhecem é que no Brasil não se usa o método de ensino de
Freire.
Suas teorias nunca foram política do estado brasileiro, muito menos nos
governos petistas, como muitos incautos afirmam.
Paulo Freire pregava uma educação crítica baseada no contexto social de
cada educando, não só ensinava a palavra em si, por exemplo, o termo
"TRABALHO", como também orientava a escrevê-la, o seu significado, as
lutas de classes, quem eram trabalhadores e os patrões, o que cada aluno
produzia com seu trabalho e etc., além do mais importante é que cada um podia
ensinar com a sua história de vida e experiência cotidiana.
A pedagogia do oprimido gera uma educação crítica com base no contexto
social do aluno colocando-o também como professor através da sua experiência de
vida.
Freire dizia que "Seria uma atitude ingênua esperar que as classes
dominantes desenvolvessem uma forma de educação que as proporcionasse perceber
as injustiças sociais de maneira crítica". E era isso que ele propunha uma
educação crítica para os oprimidos.
Seu método de ensino é tão revolucionário que ele é o terceiro teórico
mais citado do mundo em trabalhos acadêmicos. Todas as mais importantes
universidades do mundo oferecem cursos sobre ele e estudam-no.
Dificilmente haverá um debate no Brasil e no mundo sobre educação sem
citar Paulo Freire, sem reconhecer sua grandeza e sua importância.
Em contrapartida, como é horrível ver pessoas incapazes de lerem um
livro de autoajuda, um romance ou até mesmo um gibi querendo atacar nosso maior
educador, sem terem as mínimas condições mentais de lerem-no, de refletirem
sobre o que teorizou e incapazes de viver como Freire viveu.
[1] Paulo Freire foi elevado à condição de
Patrono da Educação Brasileira em 2012, no governo de Dilma Rousseff.
[2]Veja a matéria:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/12/16/bolsonaro-chama-paulo-freire-de-energumeno-e-diz-que-tv-escola-deseduca.ghtml.
[3]https://dicionario.priberam.org/energumeno. Consultado em 17/12/2019.