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quinta-feira, 19 de novembro de 2020

As Testemunhas de Jeová e a prática nefasta do Ostracismo

 "Ser banido significa ir pra longe, muito longe. Pra um lugar onde as pessoas foram conscientes demais... '' Aldous Huxley

 

Há alguns meses, um grande amigo, ex-Testemunha de Jeová, me colocou num grupo nacional de ex-membros da "seita" por conta de uma palestra que eu ia ministrar cujo tema era "Intolerância Religiosa". Eles me pediram para falar sobre a prática do Ostracismo, que algumas religiões praticam, dentre elas a própria Testemunha de Jeová e a Cientologia que é uma religião norte-americana do ator Tom Cruise.

Ostracismo é substantivo masculino, sua origem provém da língua grega, e dela deriva-se o óstrakismós que significa punição política, isolamento ou exclusão (banimento, repulsa, exílio). É um termo proveniente da Grécia antiga, sobretudo, da Democracia Ateniense, era uma forma de punição aplicada aos cidadãos suspeitos de exercerem poder excessivo e restrição à liberdade pública. Ele foi criado pelo legislador Clístenes, na sua reforma para consolidação do regime democrático ateniense. Em linhas gerais, o ostracismo condenava o acusado à perda de seus direitos políticos e ao exílio durante dez anos, sem a perda de suas propriedades.

O historiador Cláudio Fernandes nos informa que:

 

"Quando os cidadãos atenienses percebiam que a ordem democrática poderia estar ameaçada, utilizavam-se de dispositivos que acorressem à sua manutenção. Um desses dispositivos era o ostracismo, que nada mais era do que o banimento ou exílio de algum membro da sociedade (geralmente um ator político ou militar). Anualmente, os cidadãos reuniam-se na Ágora para decidir em quem aplicar o ostracismo".

 

A votação era feita por meio da inscrição do nome dos candidatos em pedaços de cerâmica, chamados ostracon[1] (em grego), daí vem o nome ostracismo. Quem recebesse mais votos dos cidadãos era ostracizado, os mais famosos foram sob acusações de tirania ou pendor para a tirania. Exemplos notáveis são os dos participantes da Guerra do Peloponeso, os generais Temístocles e Tucídides, sendo esse último o famoso historiador e autor da “A história da Guerra do Peloponeso”.

Saindo da Antiga Atenas e aterrissando no presente. Vamos falar de outra prática de ostracismo, o praticado pelas Testemunhas de Jeová.

O ostracismo praticado pela Torre de Vigia[2] é quando um membro é desassociado pelos anciãos, os líderes da seita, isso porque as testemunhas de Jeová acreditam que aqueles de fora da religião podem prejudicar sua fé. Ou a desassociação ocorre pela saída do próprio fiel por conta própria por motivos pessoais, discordância doutrinária ou teológica.

Ao ser desassociado ou se desassociar a pessoa se afasta de familiares, é afastado do convívio de amigos de longa data, pessoas que são fundamentais em sua vida e fazem parte de toda sua história. Filhos são expulsos de casa, pai e mãe morrem doentes sem receber ajuda, visita e atenção de seus filhos, tios e sobrinhos rompem relações de forma permanente, e amigos que se amam passam a viver como estranhos e incomunicáveis.

Essa é uma situação causadora de muita dor, sofrimento, doenças psicológicas e até a morte de ex-membros das Testemunha de Jeová.

A BBC de Londres fez uma reportagem sobre o tema desassociação e ostracismo e obteve as seguintes respostas da Torre de Vigia:

·         "Se uma testemunha batizada viola o código moral da Bíblia e não apresenta evidências de que não continua a fazer isso, ela ou ele serão afastados e desassociados".

·         "Quando se trata desse afastamento, as testemunhas seguem as instruções da Bíblia, e, neste ponto, a Bíblia diz claramente: 'Removam os homens perversos entre vocês[3]'", afirma o texto.

Ailton Pereira, membro da Associação Torre de Vigia de Bíblias e Tratados e porta-voz das Testemunhas de Jeová no Brasil, diz que quanto à orientação de que familiares e amigos se afastem de pessoas desassociadas, a Bíblia determina na passagem 1 Coríntios 5:11-13 ser necessário cortar o relacionamento com alguém que mantenha uma conduta inadequada. "Seguimos os ensinamentos sagrados", afirma Pereira.

Diante de um comportamento considerado inapropriado, muitas vezes o afastamento ocorre para que "outros membros da família não sejam influenciados e a família seja preservada".

"O afastamento ocorre porque uma pessoa tomou o caminho. Se alguém está em um relacionamento imoral, é justo que o chefe de família proíba a pessoa de trazer seu companheiro para dentro de casa", explica Pereira.

Na verdade, essa orientação da seita de afastar os desassociados tem levado milhares de pessoas à tristeza extrema, à depressão, ao total isolamento e até ao suicídio. Não são poucos os relatos e reportagens que mostram de forma inequívoca o quão vil, desumano e abjeto é essa prática do Ostracismo.

Nesse grupo que faço parte criado por ex-integrantes das Testemunhas de Jeová, as histórias de ostracismos e suas consequências horrendas a suas vidas se multiplicam. O bom é que essa comunidade trabalha com a ajuda mútua, assim como, com atos de protestos e denuncias da seita, quando a mesma faz grandes eventos pelo Brasil.

Vejam a triste história de Lauren Stuart a seguir[4]:

“Aos 45 anos, Lauren Stuart parecia ter tudo, um marido bem sucedido, duas crianças com formação universitária, um portfólio como modelo e uma casa encantadora no porto de Keego com uma coroa de corações decorado na porta.

Mas, por trás da vida aparentemente idílica, os amigos dizem que Stuart lutou com a angústia de ser condenada ao ostracismo pela religião onde ela e seu marido foram criados. Cerca de cinco anos atrás, Stuart e seu marido deixaram as            Testemunhas de Jeová, uma denominação cristã que tem sido criticada por seu doutrinamento rigoroso e por sua prática de ostracizar ex-membros.

Na semana passada, Stuart baleou e matou seu marido e seus dois filhos adultos. A polícia encontrou os corpos na manhã de sexta-feira enquanto respondia a uma chamada de um parente preocupado.

A amiga de longa data da família, Joyce Taylor e outros amigos, acreditam que o assassinato e o suicídio foram consequência do ostracismo praticado pelas Testemunhas de Jeová. Ela disse que os Stuarts deixaram a religião há mais de cinco anos por causa de questões doutrinárias e sociais”.

Separar pessoas por conta de não comungarem da mesma ideia religiosa e discordarem de questões de fé e dogma é o exemplo mais vil de Intolerância Religiosa, de não aceitação da pluralidade de ideais e concepções teológicas.

As Testemunhas de Jeová deve ser denunciada, assim como a Cientologia e todas as religiões que praticam o ostracismo. Por esse ato insensível, desumano e impiedoso. Esqueceram que a bíblia diz que Deus não faz acepção de pessoas e que Cristo em Mateus 11:28-29[5] convocou a todos sem exceção a irem até Ele, para encontrar amparo e descanso para suas almas.

Todas as pessoas que não concordam com a prática do ostracismo, devem se unir para protestar e denunciar toda e qualquer prática nociva da Torre de Vigia e demais religiões que ao invés de pregarem sobre amor, solidariedade e compaixão, vivem a pregar uma mensagem de ódio, desamor, preconceito e intolerância.



[1] Ver imagem no topo do texto.

[2] Desde julho de 1879, os Estudantes da Bíblia (desde 1931, conhecidos como Testemunhas de Jeová) passaram a seguir a liderança de Charles Russell e a serem assinantes da revista A Torre de Vigia de Sião (em português, atualmente conhecida por A Sentinela - Anunciando o Reino de Jeová). Fonte: https://testemunhas.wikia.org/wiki/Sociedade_Torre_de_Vigia_de_Tratados_de_Si%C3%A3o

[5] Mateus 11:28-29 diz: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.”





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