“A paz, se possível, mas a verdade, a qualquer preço”. (Martinho Lutero)
Infelizmente a maioria absoluta das pessoas evangélicas desconhecem quem
foi Martinho Lutero e o dia 31 de outubro de 1517. Uma data muito importante
para a história universal, sobretudo do Ocidente.
Lutero dividiu o mundo. Lutou contra a maior força política e espiritual
de todos os tempos, a igreja Católica Apostólica Romana. Obviamente que não
conseguiria êxito se do seu lado não estivesse parte da nobreza alemã.
Em todos os livros de História no ensino público em nosso país, do
sétimo ano, está sendo narrada a sua saga e de outros protestantes, como João
Calvino e Zwnglio. Assim como, dos pré-reformadores Jan Huss e Savonarola.
O que motivou a Reforma foi principalmente a Venda de Indulgências, ou
seja, a igreja comercializa o perdão, as pessoas pagavam uma quantia em
dinheiro para livrarem seus parentes vivos ou mortos, do purgatório e do
inferno. Foi através do comércio das indulgências que foi construída a Basílica
de São Pedro.
Outro motivo foi a Simonia, compra ou venda ilícita de coisas
espirituais (como cargos eclesiásticos e sacramentos) ou temporais ligados às
espirituais (como os benefícios eclesiásticos). Era comum na Baixa Idade Média,
séculos XI ao XV, os nobres comprarem cargos religiosos, como de Cardeal e
Bispo por certa quantia de dinheiro. Lembrando, que até essa época a igreja não
havia instituído os seminários.
Outra coisa denunciada por Lutero e demais reformadores foram as vendas
de relíquias sagradas. O escritor português Eça de Queiroz nos diz que somente
em Portugal, a igreja vendeu tantos pedaços da cruz que daria para fazer cem
mil cruzes. Vendia-se de tudo, desde o leite dos seios da Virgem Maria,
espinhos da cruz, objetos pessoais dos santos etc., sem contar que também se
cobrava para ver ossos dos apóstolos, santos, como um caso muito interessante,
João Batista que na bíblia teve sua morte por decapitação, a igreja nesse
período tinha 13 cabeças autênticas dele e as pessoas pagavam para vê-las.
Lutero em uma de suas pregações ironizava a prática do clero ao dizer, que dos
doze apóstolos de Cristo, 18 estavam enterrados na Espanha.
Esses incontáveis absurdos que eu poderia aqui multiplicar, juntamente
com a corrupção generalizada do clero, aqui incluindo os papas do período, como
Alexandre VI e Leão X, levaram a um descrédito imenso a igreja. Ela de fato
precisava ser reformada.
Lutero se enganou achando que poderia reformar a igreja. E quando o papa
em 1521, declarou sua excomunhão e ele foi perseguido pelo Tribunal do Santo
Ofício (Inquisição), como herege, ou seja, aquele que vai de encontro a sã
doutrina, ou o que estava estabelecido pelos papas. E assim, à revelia de sua
vontade e satisfazendo os interesses dos príncipes alemães que sonhavam em se
livrar do jugo pesado de Roma, surge a Igreja Luterana, a primeira igreja
protestante. Logo a seguir, Ulrich Zwínglio, João Calvino e o rei inglês, Henrique
VIII, também levam a reforma a outros países europeus dividindo a cristandade
no continente.
O papa Paulo III, em 1542, convocou um concílio. Que entre os anos de
1545 e 1563 se reuniu, na cidade italiana de Trento, para tentar conter os
avanços da reforma protestante. Surge aí a Contra Reforma ou Reforma Católica.
Dentre as principais decisões do concílio de Trento, podemos citar:
- Condenação à venda de indulgências
(um dos principais motivos da Reforma Protestante, que foi duramente
questionada por Martinho Lutero).
- Criação do Index Librorum
Prohibitorum (Índice de Livros proibidos) que condenavam obras contra os dogmas
católicos ou aquelas que não agradavam o clero católico.
- Confirmação do princípio da
salvação pelas obras e pela fé.
- Ressaltou a importância da missa
dentro da liturgia católica.
- Confirmou o culto aos santos e à
Virgem Maria.
- Reativação da Inquisição (Tribunal
do Santo Ofício).
- Reafirmou a doutrina da
infalibilidade papal.
- Confirmou a existência do
purgatório.
- Confirmação dos sete sacramentos.
- Proibição do casamento para os
membros clero (celibato clerical).
- Criação de seminários para a
formação de sacerdotes.
- Confirmação da indissolubilidade do
casamento.
- Medidas e decretos visando à
unidade católica e o fortalecimento da hierarquia.
Umas das considerações mais importantes sobre a Contra Reforma, foi a
admissão da igreja de muitos de seus erros, principalmente da Venda de
Indulgências. Como também, as afirmações de outras doutrinas duramente criticada
por Lutero e demais reformadores, tais como, os cultos aos santos e a
infalibilidade papal.
O que me levou a escrever esse excerto, não foi o aniversário da Reforma
a princípio, mas a notória observação que nós precisamos de uma Nova Reforma
urgente!
Tanto a igreja Católica quanto as protestantes históricas e esse grupo
chamado evangélico com suas inúmeras ramificações precisam rever muito de suas
práticas e dogmas.
Hoje muitas igrejas agem como se tivessem na Idade Média, as
indulgências voltaram, a barganha, a negociata e a falta de pudor eclesiástico
são claramente percebidos.
Jesus deixou de ser um mestre, um transformador de corações e vidas e
passou a ser marca, virou produto no famigerado mercado religioso. Seu nome
gera bilhões de dólares. Virou de marca de refrigerante no Nordeste à empresa
que lava dinheiro, como a de Eduardo Cunha, chamada: Jesus.com. Perdeu-se o temor!
Milhões de pessoas são espoliadas no Brasil e no mundo através do mal
uso do nome de Jesus. A mensagem que deveria trazer libertação, tornou-se fonte
de exploração.
Eu ouso a dizer que o que se instalou em nosso meio hoje é muito pior
que Lutero enfrentou no século XVI. A igreja se tornou um ajuntamento de
assaltados, pelos piores criminosos da história, àqueles que extorquem o último
centavo da pessoa em nome de Deus.
Multiplicaram-se campanhas, as mais bizarras possíveis, como a famosa
Fogueira Santa, que pede todo o salário do fiel. A igreja não sabe se precisa
de dinheiro para viver ou se vive por causa do dinheiro. Numa inversão de
valores extrema.
Nunca antes precisamos de uma reforma. Há um texto famoso nas escrituras que diz, que se não nos levantarmos a pregar e denunciar o erro as pedras clamarão. Espero que não seja necessário as pedras clamarem. Mas que nós possamos nos levantar e proclamar uma nova reforma.
[1] Artigo escrito originalmente em
31/10/2015, em comemoração aos 498 anos da Reforma Protestante, hoje esse
evento que mudou a história do Ocidente tem 502 anos. O mesmo teve início em
31/10/1517.