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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

O Messianismo Político e a Ascensão de Jair Bolsonaro



O Brasileiro dificilmente aprende com a sua própria história. Toda vez que estamos perto do pleito eleitoral às pessoas aflitas começam a buscar os supostos “salvadores da pátria” os “messias” da última hora, aqueles que trarão luzes em meios às trevas, esperança em meio à desesperança, riqueza em meio à pobreza, segurança em meio ao horror da criminalidade e saúde para um povo desvalido e doente.
Esse fenômeno que não é somente brasileiro, apesar de ser contínuo em nossa história, é universal! Seu nome é Messianismo Político. Segundo o sociólogo Carlos Serra: “Messianismo político é a crença na capacidade excepcional de certos indivíduos de resolver problemas sociais de forma imediata e irreversível. De alguma maneira, o messianismo político é uma modalidade profana de uma crença religiosa”.
O Messianismo Político perdura independente de épocas e contextos históricos. Mas conforme Serra, ele é especialmente forte em meios sociais nos quais se conjugam três fenómenos: (1) Grande peso das tradições e das regras costumeiras; (2) Percepção da erosão dessas tradições e dessas regras; (3) Níveis de pobreza multidimensional elevados.
Frei Beto afirmar que: “Voltamos à era do messianismo político, a mesma que gerou Hitler e Mussolini”. A ascensão de políticos como Jair MESSIAS Bolsonaro, é um exemplo claro e notório desse fenômeno em nossos dias. Os seguidores entusiastas do deputado mais votado do Rio de Janeiro acreditam que ele de fato seja o Messias (o Cristo profano) conforme seu próprio nome indica. Ledo engano.
Bolsonaro é uma das velhas figuras que se apresenta como novo. Foi eleito como vereador do Rio de Janeiro em 1988, pelo Partido Democrata Cristão; em 1990, se elegeu deputado federal, conseguindo quatro mandatos consecutivos nesse cargo. Já foi filiado ao Partido Progressista Reformado (1993-1995), ao Partido do Povo Brasileiro (1995-2003), ao Partido Trabalhista Brasileiro (2003-2005), ao extinto Partido da Frente Liberal (2005), ao Partido Progressista (2005-2016), ao Partido Social Cristão (2016-2017) e, agora, está no Partido Ecológico Nacional. De 1988 a 2017, Bolsonaro já está na política há 29 anos, 25 deles no Congresso. 
Em todos esses anos no Congresso Nacional, Bolsonaro só apresentou um único Projeto de Lei, ou seja, não tem nenhuma realização substancial como político. Segundo Jean Carvalho: “Sua imagem foi inteiramente construída no mito de que ele possui uma moral ilibada, que é um militar honrado e que rompe radicalmente com o establishment político. Mas isso não é verdade”. Bolsonaro é uma velha figura política que faz parte do sistema que ele diz combater.
Bolsonaro mesmo fazendo campanhas antecipadas para presidente em 2018, usando a cota parlamentar (o que é ilegal) não possui nenhum projeto de governo. E já declarou inúmeras vezes que não tem nenhum conhecimento sobre economia.
Em 2014, ele recebeu R$200 mil da empresa JBS, envolvida em corrupção, para financiar sua campanha. Em 2017, por conta de matérias sobre o caso e da Operação Carne Fraca, ele "devolveu" o dinheiro. Só que essa "devolução" foi na forma de doação ao partido do qual ele era membro, o PP, que enviou o dinheiro novamente para ele como fundo partidário. Em termos simples: Bolsonaro fez triangulação e lavou o dinheiro por meio do partido do qual era membro. Ele não devolveu nada: ele retomou.
Segundo a declaração de bens de Bolsonaro feita ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) entre 2010 e 2014, o patrimônio dele aumentou em 150%. Ele comprou duas casas na Barra da Tijuca, uma no valor de R$500 mil e outra no valor de R$400 mil. Esse patrimônio é incompatível com os rendimentos recebidos formalmente por ele. 
Bolsonaro é alinhado à bancada ruralista (a mesma que comanda o Brasil a décadas e que é a maior das duas casas legislativas), uma das mais corruptas e nefastas do Congresso Nacional, por isso ele é contra as demarcações das terras indígenas e contra os títulos de propriedade das terras dos quilombolas. Além de ser um defensor do agronegócio.  
Também por conta da sua penúltima filiação partidária, junto ao PSC (Partido Social Cristão) recebeu apoio de parte significativa da bancada evangélica, constituída por conservadores.
Foi a favor de inúmeras propostas contra os mais pobres, feitas pelo governo do presidente Michel Temer, como a PEC 241, que limita os gastos públicos por vinte anos e a Reforma Trabalhista que retira direitos dos trabalhadores. É um ferrenho defensor do capitalismo e anticomunista. Sempre esteve a favor dos opressores (donos do capital, os burgueses) e contra os oprimidos (os mais pobres e as minorias, como negros e índios).
Ainda segundo Jean Carvalho: Bolsonaro: É, em resumo, um arremedo da indignação popular, uma velha figura política que surge como "novidade" e "promessa de restauração".
Seus eleitores parecem desconhecer ou simplesmente ignorar o funcionamento da política nacional, pois os mesmos o consideram como o “salvador da pátria” o “messias” que ditará sem quaisquer impedimentos as soluções necessárias ao Brasil. Se esquecem que sem o apoio do legislativo nenhum governante conseguirá realizar projeto político algum. Se não tiver maioria no Congresso Nacional não há governo possível. E o pior, se não comprar (através da troca de favores, benesses e cargos políticos, inclusive em diretoria de estatais) os deputados e senadores não conseguirá administra o país.
Não é difícil perceber o que foi expresso acima. É só lembrarem-se do processo de impeachment da Dilma e dos dois livramentos que o Temer recebeu dos parlamentares. A presidenta tinha minoria, por isso foi afastada do seu cargo, enquanto Temer com todas as provas óbvias contra si, conseguiu se livrar dos processos criminais, por possuir (e comprar) apoio da maioria dos congressistas. Ou seja, se o “mito” não fizer o jogo que ele próprio conhece muito bem, não governará, caso ganhe a presidência. Só seus eleitores não conhecem as regras do jogo político brasileiro, que por si só, acaba com qualquer messianismo político.  
Um pouco de conhecimento histórico e político acaba com toda a fantasia criada em torno do “mito” Bolsonaro e do messianismo político. Quem vive verá!

  


domingo, 8 de outubro de 2017

Relacionamento e Prioridade (Por Acioli Junior)



 

Tem coisas que só percebemos com a maturidade ou quando apanhamos muito da vida, ou pior ainda, quando perdemos alguém que amamos, ou ainda, quando percebemos que amávamos depois que se foi.

Uma das marcas fundamentais de um relacionamento saudável e duradouro é o que denominamos de prioridade. A definição lexical desse substantivo feminino que mais gosto é “condição do que é primeiro em tempo, ordem, dignidade”. Ou seja, prioridade é tratar o outro com máxima atenção. É tê-lo como a coisa mais importante do momento. É parar o que se faz para dar ao outro a devida atenção. É atribuir respeito e apreço ao parceiro ou parceira.

Já perdi relacionamentos com pessoas maravilhosas porque fui imaturo, egoísta e inexperiente, não dei a devida atenção a elas. Também já perdi relacionamentos porque só dei prioridade quando a pessoa que sempre me priorizou cansou-se e já me tratava como sempre a tratei, com indiferença. Terminei ou mal comecei outros relacionamentos, porque estava explícita a minha falta de prioridade e igualmente dá minha parceira, então, nesse zero a zero, melhor não começar.

Essas situações servem para nos mostrar que entrar num relacionamento sem dar o devido respeito ao outro e sem priorizar a pessoa que se está ou se pretende estar é uma grande perda de tempo, além de somente provocar feridas no outro ou em si. A vida é muito efêmera, transitória e fugaz para a vivermos de qualquer maneira. O ser humano tem dignidade inerente, portanto deve ser tratado da melhor forma possível.

É muito fácil percebermos num relacionamento se somos priorizados ou damos prioridade. O egoísmo, pensar em si, não no casal, é uma marca singular da falta de prioridade, responder mensagens no Direct, Messenger, ou WhatsApp meia hora ou dez minutos depois estando online é exemplo claro de que não priorizamos ou não somos priorizados, pois quem é importante para o outro receberá respostas instantânea, ou uma desculpa informando que está ocupado no momento, mas nunca ficará a ver navios esperando a boa vontade do outro.

É fácil perceber se somos o centro das atenções de quem nos relacionamos. Ou quando deixamos de ser importante para o outro, mas fácil ainda, é sabermos que não devolvemos a altura o que nos é dado.

Eu sei que diante de um mundo virtual com tantas ofertas para alguns, é extremamente difícil priorizarmos e sermos priorizados de fato. É muito mais fácil errarmos do que acertarmos num relacionamento no contexto social atual.

Mas uma coisa é certa, não será em boates, festinhas e sites de relacionamentos que você encontrará alguém disposto a te priorizar. Se até nas igrejas e templos religiosos é difícil encontrar, imagine em baladas e sites de namoro. Se caso alguém encontre um relacionamento saudável e respeitoso nesses locais, será um milagre e muita sorte.

Bom seria se cada pessoa fizesse uma reflexão e uma introspecção sobre o que fez e tem feito da sua vida e de seus relacionamentos.

Deixo quatro conselhos: primeiro, se você encontrou alguém que o priorize e você gosta dessa pessoa, aproveita essa oportunidade de ter uma vida maravilhosa, pois você acertou na Mega-Sena da vida. Não dê lugar a estupidez e ao egoísmo que é inerente a vida humana, e jogue tudo a perder. Pode ser que nunca mais encontre alguém que te tenha como prioridade. Segundo, se você não é tratado com prioridade e percebe que não será tratado, não continue a dar socos em pontas de facas, termine o relacionamento o quanto antes, pois quanto mais duradouro maior serão suas feridas e frustrações. Terceiro, se você não trata com prioridade e sabe que nunca irá tratar, deixe a pessoa seguir sua vida, pelo menos ela pode encontrar alguém que a trate melhor que você e tem uma chance concreta de ser feliz. Quarto, se não quer tratar com prioridade, pois você ainda está no playground da vida, na era da curtição, abra o jogo e seja sincero, diga que quer curtir o momento, assim você não iludirá o outro e ele ficará sabendo das suas reais pretensões.

Seja alguém que viva dentro de dois conceitos humanos fundamentais: Sinceridade e Transparência. A vida e o outro agradecem!!




  

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Um clamor pelo Estado Laico e pelo Ensino Religioso Não-confessional

O Brasil desde a Carta Magna de 1891 é um Estado Laico, pelo menos no papel. Essa foi a nossa primeira Constituição Republicana, segunda da nossa história, a primeira foi a outorgada por D. Pedro I em 1824, que impunha a nação o estado Confessional Católico, proibindo todas as demais práticas religiosas em território nacional.
Um estado que se declara Laico, é um estado neutro em relação a manifestação religiosa de seu povo. Pois se entende que a religião é de foro íntimo, pessoal e privado. Portanto, os entes federativos: a União, os Estados membros, o Distrito Federal e os municípios não podem nem proibir e muito menos subvencionar religiões e igrejas, algo que também não ocorre na prática, pois o que mais vemos reiteradamente é a união destes entes com o catolicismo romano, a mais de 500 anos, e com o mundo evangélico a partir da década de 1980, por conta do crescimento vertiginoso desse segundo segmento. Os numerosos feriados católicos em nosso calendário e as inúmeras procissões, show Gospel e Missas financiadas com o dinheiro público estão aí para comprovar que laicidade infelizmente é tão somente uma teoria. 
O desrespeito pelo Estado Laico é expresso pela nossa Suprema Corte, o STF, que é o órgão máximo de nossa justiça e guardião de nossa constituição, ele mesmo ao colocar um crucifixo católico em sua tribuna afronta o princípio da laicidade e da isonomia.
E mais uma vez o Estado Laico corre perigo. Não somente ele, mas o cérebro de nossos filhos. Pois está em votação no STF a ADI 4.439 (Ação Direta de Constitucionalidade), que versa sobre o Ensino Religioso em escolas públicas, se o mesmo será Confessional (Proselitismo) e Não-confessional (História das Religiões), diga-se de passagem que não é o Ensino Religioso em si que está em discussão, pois o mesmo está expresso no Artigo 210 da CF/88, mas sim a sua forma de execução nas unidades escolares.
O Ensino Religioso Confessional é uma forma de proselitismo, de propaganda religiosa, de marketing de uma determinada fé as custas do dinheiro público (de toda sociedade). É portanto, uma aberração! É usar o dinheiro do estado para promover determinada crença religiosa. E todos sabemos, que as religiões já possuem meios de promoção doutrinária, como o catecismo católico, a escola dominical e sabatina dos evangélicos e os cultos de ensino das demais religiões, não necessitando, destarte, de utilizar a escola pública para essa finalidade de propagação da fé.
Já o Ensino Não-confessional, é aquele que pressupõe o conhecimento e o respeito para com as distintas formas de manifestação do sagrado. Além do conhecimento de inúmeras culturas, religiões e credos. Levando o aluno a uma reflexão aprofundada da vida, não míope e medíocre, que é o que estabelece o ensino confessional.
A sociedade brasileira é plural. Por mais que o cristianismo ainda seja a religião da maioria da população, não podemos fazer de um Estado Democrático de Direito, uma ditadura da maioria, como querem os segmentos religiosos majoritários.
O fato de o Ensino Religioso ser facultativo, como assevera a nossa Carta Magna, no Artigo 210, não é a desculpa para se impor o ensino de um único credo aos discentes. Quanto mais ampla e abrangente for a formação dos nossos alunos, melhor será a sua capacidade de convívio num mundo plural e diverso.
A vitória do Ensino Religioso Confessional é o mesmo que retrocedermos a Idade Média. É matarmos a riqueza que é o convívio com as culturas diferentes e com o contraditório. A vitória do Ensino Não-confessional é a garantia do respeito as diferenças e as minorias.
Infelizmente os educadores, movimentos sociais, as ONGs e todos aqueles que lutam por uma educação livre, plural e inclusiva não acordaram e perceberam a importância do julgamento dessa ADI 4.439, pois a mesma pode implicar numa sociedade mais tolerante ou opressiva num futuro bem próximo.
         



sábado, 17 de junho de 2017

Aposentados: O que Comemorar!?

Hoje, dia 17 de junho, é o dia do Funcionário Público Aposentado. Em inúmeras prefeituras do Brasil, os idosos tem seus salários atrasados, inclusive aqui em Cabo Frio. Mas, a situação é infinitamente mais caótica, para os aposentados e pensionistas do Estado do Rio de Janeiro, os mesmos estão a quatro meses sem receber seus salários. E o nosso estado está entre os mais ricos da nação. Uma das maiores rendas per capta da América Latina, que sozinho produz 81% de todo o petróleo produzido no Brasil.
Esse mesmo ente federativo que gastou 39 bilhões de reais para fazer as Olimpíadas, gastou 1,2 bilhões na reforma hiper faturada do Maracanã, e que anistiou inúmeras empresas financiadoras de campanhas de Sérgio Cabral e Pezão, inclusive uma Termas (popularmente conhecida como puteiro). As cifras da “bondade” fiscal de Cabral e Pezão chegaram a 285 bilhões de reais, segundo os Jornais O Globo e O Dia e, conforme o TCE, entre 2008 e 2013 passaram de 200 bilhões de reais, esse volume de dinheiro, segundo economistas, pagariam mais de sete anos de salário do pessoal da ativa, aposentados e pensionistas do estado.
Até a empresa mais rica do Brasil, a Ambev, deixou de pagar 630 milhões de reais em impostos ao estado carioca supostamente quebrado, e pasmem, foi o próprio governador, no dia 6/4/2017, quem pediu a ALERJ (Assembleia Legislativa do Estado), que aprovassem um Projeto de Lei (PL 2543/2017), isentando a mega empresa de impostos, tudo por que o dono da empresa, é amigo de Cabral, Pezão, Picciani e outros canalhas do nosso Estado. As benesses estatais não ficaram somente em anistia de impostos; o governador também pagou a conta de luz da Odebrecht, no valor de 38 milhões de reais. Não se esquecendo que o Marcelo Bahia Odebrecht, é o maior “amigo” e “padrinho” dos políticos corruptos brasileiros.
E se não bastasse isso, agora vemos o nosso presidente ilegítimo e sem apoio popular, tentando aprovar uma reforma da previdência aonde o trabalhador, segundo quer o governo federal, deve trabalhar 49 anos para se aposentar, mas Michel Temer se aposentou com 53 anos de idade, e seu ministro, que luta pela aprovação dessa contrarreforma, se aposentou com 50 anos de idade. A falta de ética, disfarçastes e o despudor é a marca da politicagem nacional. Sem contar o fato de os governantes e legisladores da república, somente legislarem em causa própria e para seus financiadores de campanha, esses últimos, são os únicos que lucrarão com ambas contrarreformas, da Previdência e Trabalhista, colocando a população numa situação de semiescravidão e de exploração extenuante!    
Os trabalhadores brasileiros, principalmente, nossos aposentados que trabalharam dignamente com tanto afinco e destreza, não podem pagar a conta da corrupção dos governantes. Não podem pagar pela incapacidade administrativa e gerencial dos mesmos.  
Nesse dia, 17/06, que deveria ser um data especial. Tornou-se uma data de lamento, do choro e do ranger de dentes. Daqueles que trabalharam honestamente a vida inteira, mas agora, não possuem nem o direito constitucional de receberem sua aposentadoria em dia!



    

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Uma feliz descoberta e uma triste constatação!

Na quarta-feira, 9 de maio de 2017, participava de um Conselho de Classe na minha escola no município de Rio das Ostras. Como muitos professores são oriundos da cidade de Casimiro de Abreu e  principalmente de seu distrito, Barra de São João, eu aproveitei para entrevistá-los sobre a Ponte[1] Caída de Barra,[2] queria saber quando a ponte foi construída, quem a mandou construir (em qual governo), qual a finalidade de sua construção e, principalmente, quando ela caiu.

Esse meu interesse pelo local advém do meu livro “Roteiro Ambiental e Patrimonial da Cidade de Cabo Frio”, pois nele eu faço a narrativa histórica de bens culturais e ambientais do segundo distrito de Cabo Frio, das suas praias (Unamá, Aquários e Pontal) e dos rios São João e Una. O supracitado Rio São João tem a sua foz na praia do Pontal, e a ponte ou as pontes que esse rio atravessa abaixo fazem a divisão territorial entre os municípios de Casimiro de Abreu e Cabo Frio. Portanto conhecer a história local é do meu total interesse.

As entrevistas responderam algumas das minhas perguntas; descobrir a data da construção da Ponte, ano de 1942 e sua finalidade: servir como ferrovia, não como rodovia, como pensam as pessoas que não conhecem sua história. Porém, eles não souberam responder a principal questão, a data da queda da ponte. Nem nos sites das duas prefeituras (Casimiro de Abreu e Cabo Frio) trazem essa informação. Entretanto, eles me indicaram uma certa senhora, dona Elza, moradora e comerciante de Barra de São João, uma profunda conhecedora da história e “causos” da localidade.

Eles não indicaram a data da “queda” da Ponte Caída de Barra de São João, porque a mesma caiu em vários momentos distintos nos anos 1950 e 1960, deixando-nos um lindo visual. Foi se tornando o mais famoso Cartão Postal da localidade, tanto para Casimiro de Abreu como para Cabo Frio. 

Após o final do conselho de classe, prontamente me dirigir a casa dessa senhora, encontrei seu comércio fechado e decidir não chamá-la em casa, pois já era quase noite e chovia. Então, me dirigir a Campos Novos, Segundo Distrito de Cabo Frio. Fui à casa de minhas tias[3] e começamos a falar das histórias e principalmente das lendas envolvendo a Fazenda Campos Novos e região.

Ao relatar a ambas os resultados de minhas entrevistas e falar sobre a estação ferroviária de Barra de São João e da finalidade da Ponte Caída, que era servir como ferrovia, minhas tias disseram: “mas aqui também tem uma estação ferroviária bem perto, ela está em área da Marinha, perto da escola pública municipal”. Eu fiquei estupefato com o que ouvi, admirado, alegre. Pois eu ouvi pela primeira vez sobre um monumento histórico, o qual estava bem próximo, e os livros de História de Cabo Frio, que não são muitos e já os li todos, nenhum falava dessa estação, muito menos sobre a possibilidade de passar trens nessa localidade.  

O mais interessante foi ouvir sobre um monumento histórico importantíssimo para a história da cidade de Cabo Frio, especialmente para o Segundo Distrito, mas as pessoas que falaram dele pareciam estar relatando de algo totalmente sem importância, insignificante. Eu disse para minhas tias: _ “Ninguém pode valorizar aquilo que não foi educado para valorizar, muito menos porque o poder público (municipal e federal - já que a área pertence à Marinha, ou seja, à União) também não valoriza seus patrimônios”.  

É fundamental as pessoas serem educados patrimonialmente, para assim valorizarem sua história, memória e identidade cultural. Por isso urge um trabalho sério com nossos alunos para que eles respeitem e se identifique com o patrimônio da localidade à qual pertencem. Da mesma forma, que é necessário o poder público, nas esferas municipal, estadual e federal dar o devido valor ao rico patrimônio da localidade. Se o governo não os valorizar, dificilmente os governados os valorizarão.

É inaceitável saber que um monumento histórico está abandonado a quase um século, sem que o poder público, as escolas, os pesquisadores e a própria comunidade local o conheçam. Ele está há décadas imperceptível e abandonado em meio a um matagal, como sendo algo de pouca importância, e o pior, a poucos metros de uma escola pública municipal. Mesmo assim os professores e alunos não conhecem a estação, muito menos sua história.

Fiquei muito feliz enquanto pesquisador por ter descoberto essa subestação e muito triste por mais uma vez constatar que Cabo Frio e o Brasil tratam tão mal da sua história e seu patrimônio cultural!

 

Obs.: 1 Ainda se pode ver a Estação Ferroviária de São Pedro da Aldeia, hoje sede do IPHAN, a de Barra de São João intacta e a de Campos Novos, no meio do matagal nas áreas pertencentes a Marinha do Brasil, perto do trevo de Búzios. A Estação de Cabo Frio fica no Bairro Boca do Mato e ainda está preservada (não como deveria), mas aos cuidados de particulares. A de Rio das Ostras já foi completamente destruída, conforme relatos de seus antigos moradores que por mim foram entrevistados. Também foram destruídas as mais antigas estações ferroviárias da Região dos Lagos, a de Conde de Araruama e Iguaba Grande, tendo somente lindas fotos de recordação das mesmas. A do município de Iguaba Grande ficava situava no Bairro ironicamente chamado de “Estação”.

 

Obs.: 2 “Por ocasião da Segunda Guerra Mundial, a E. F. Maricá tinha interesse em alcançar a localidade de Macaé. Para tal, foi criado o posto Telegráfico Fonseca no Km 156, de onde partiria a linha em direção a Macaé, atravessando as comunidades de Búzios (Campos Novos), Rio das Ostras, Barra de São João e Rio Dourado, daí até Macaé, margeando a rodovia. Em Barra de São João ainda existe uma estação ferroviária com plataforma e dizeres alusivos à EFM. Uma ponte sobre o Rio São João foi construída para atender o tráfego ferroviário. Em Rio das Ostras havia a cerca de 20 anos atrás, uma estação ferroviária. Segundo informações de moradores antigos da região, nesse trecho ferroviário passaram somente autos de linha e troles, nunca circulando qualquer trem comercial” (Rodrigues, 2005.)

 



[1] Ao lado dessa ponte está à ponte “nova” que faz divisa entre os municípios de Cabo Frio e Casimiro de Abreu. No lado de Cabo Frio, fica o bairro de Santo Antônio, no Segundo Distrito, no lado de Casimiro, seu Distrito chamado Barra de São João, por isso, ela é conhecida como ponte Caída da Barra.  

[2] A entrevista teve a finalidade de saber sobre a Ponte, porque no meu Roteiro Ambiental e Patrimonial, escrevo sobre as três praias do segundo Distrito: Unamar, Aquarius e Pontal (essa última próxima à ponte) e sobre os Rios Una e São João (esse último tem a foz na praia do Pontal, junto à ponte). Por isso se fazia necessário contar a sua história, era algo imprescindível a meu trabalho! 

[3] Minhas tias, que chamamos carinhosamente de Tia Dora e Tia Dadá, são nascidas e criadas em Campos Novos, assim como minha mãe que nasceu dentro da Fazenda de mesmo nome. Elas moram a mais de 60 anos no local e conhecem muitas histórias da região.