Hoje pela manhã ouvindo o pastor Marcos Feliciano
falando na Rádio Jovem Pan, eu percebi nitidamente o tamanho da desfaçatez dos
líderes religiosos que possuem cargos políticos no Brasil, a chamada bancada
evangélica. Feliciano admitia que a Reforma da Previdência que ele votou
favoravelmente e defendeu com unhas e dentes, retirava direitos da população.
Por isso, os parlamentares tinham direito à receber as famigeradas emendas
parlamentares, para compensar com obras nos Estados e municípios o direito que
haviam retirados com seus votos a favor da Reforma[2].
O pastor terminou dizendo que essa prática nefasta
faz parte da política nacional. Mesmo ele e o presidente da República sendo
eleitos com discursos duramente contrários a ela, o chamado toma lá dá cá e
velha política.
Numa atitude totalmente hipócrita e desumana, pois
o mesmo admite que a tal reforma retirou direitos da população, sobretudo dos
mais pobres.
A Frente Parlamentar Evangélica ou Bancada
Evangélica é um nome genérico dado a parlamentares (senadores e deputados
federais) em sua maioria líderes de igrejas evangélicas, de diversos partidos
políticos.
Eles foram e são eleitos, sobretudo por seus
discursos moralistas e religiosos, normalmente se colocam para suas
congregações como os “homens e mulheres de Deus" que vão moralizar e
trazer luz a política nacional. Além é claro, de dizerem que irão defender o
nome de Deus de qualquer blasfêmia e as igrejas de quaisquer ameaças a seu
funcionamento ou dignidade. Como se Deus precisasse de advogados e homens para defendê-lo.
As pautas mais defendidas por esse grupo são:
contra a ideologia de gênero, contra o aborto, contra a eutanásia (estranho é
que sendo contra o aborto e eutanásia deveriam defender a vida em todas as
hipóteses, mas a maioria deles são favoráveis à pena de morte) e são contra
casamentos de pessoas do mesmo sexo.
Eles também se opõem a criminalização
da violência e discriminação contra os homossexuais, bissexuais e transexuais, ou
seja, são contra a criminalização da homofobia, até porque nada é mais
homofóbica que as próprias igrejas.
São contrários também a criminalização de castigos físicos impostos pelos pais
aos seus filhos.
O grupo também tenta derrubar resoluções do
Conselho Federal de Psicologia (CFP) que impedem que psicólogos tratem a homossexualidade
como uma doença, apesar da decisão do CFP estar de acordo com a resolução de
1990 da Organização Mundial da Saúde (OMS), que retirou a homossexualidade da
lista de distúrbios mentais depois que diversas outras organizações
psiquiátricas respeitadas, como a Associação Americana de Psiquiatria e a
Associação Americana de Psicologia, terem feito o mesmo nas décadas anteriores.
A Bancada Evangélica ainda tem posições claras
contra o Estado Laico, como querer fazer cultos em órgãos públicos e ter nos
mesmos símbolos religiosos. Também buscam a aprovação do Estatuto da Família,
que, entre outras disposições, define família como o núcleo social formado a
partir da união entre um homem e uma mulher. Não aceitando a decisão do Conselho
Nacional de justiça (CNJ) que desde 2012 permite a União civil entre
homossexuais e que os mesmos adotem crianças.
Independentemente do que a Frente Parlamentar
Evangélica defenda, que a meu ver e de tantos outros especialista em política,
nada mais é que usar uma falsa pauta moral com o único objetivo de angariar
votos. Pois a Bancada Evangélica é a campeã em escândalos, só ficando atrás da
Bancada Ruralista (que é o maior câncer da política nacional). Para
exemplificar o que estou afirmando, os líderes da Bancada Evangélica eram em
2013: Anthony Garotinho, Eduardo Cunha, João Campos Araújo e Magno Malta. Todos
já responderam por corrupção dentre outros crimes.
A Frente Parlamentar Evangélica atua como testa de
ferro das megas empresas-igrejas e de seus líderes exploradores da fé, como da
IURD de Edir Macedo, Igreja Mundial de Valdemiro, Igreja da Graça de RR Soares,
Renascer de Estevan Hernandes e a Assembleia de Deus de Manoel Ferreira,
Malafaia, José Wellington e Samuel Câmara.
Todos esses líderes emprestam suas denominações
para políticos evangélicos ou não religiosos, usarem suas igrejas como
comícios, seus púlpitos como palanques e seus membros como curral eleitoral.
Ganharam em troca além de inúmeras concessões de
TVs e Rádios em todo o Brasil, lembrando que até a Record foi comprada de
Silvio Santos no governo Collor, com o corrupto PC Farias, como intermediário
da compra da mesma.
Ganharam inclusive passaporte diplomático,
facilidade na compra de Bancos, (como o Banco Renner, banco paranaense, vendido
pela presidente Dilma a Edir Macedo em 2013, em troca de apoio político),
terras, terrenos para templos, isenções de impostos e etc.
Portanto, a Frente Parlamentar Evangélica, é um
ajuntamento de parlamentares que normalmente votam contra o povo, apoiam
criminosos e impedem que os mesmos sejam investigados, como não permitiram em
2016, que o ex Presidente Michel Temer fosse investigado e até preso pelos
muitos crimes que o mesmo cometeu. A Bancada Evangélica toda virou as costas ao
clamor popular por justiça e manteve Temer impune, após o mesmo liberar bilhões
em emendas parlamentares, como meio de comprar os congressistas para continuar
presidindo o país.
Essa bancada está aonde o poder estar. Quando
Collor era presidente estavam com ele. Estavam também com Itamar Franco, com
FHC, com Lula, Dilma, Temer e agora, com Bolsonaro.
A Frente Parlamentar Evangélica com suas atitudes
nefastas são motivos de escândalos e fazem o nome de Deus se escarnecido todos
os dias no Brasil. Por trás de um discurso pseudomoralista escondem um covil de
salteadores. A esse grupo de parlamentares cabem as máximas de Jesus: "São
sepulcros caiados" e "raças de víboras".
[1]
Escrito em 23/07/2019 com o
intuito de refletirmos sobre a “Bancada Evangélica” ou Frente Parlamentar
evangélica, considerada por muitos juristas uma violação ao Estado Laico, além
de ser um exemplo de retrocesso e corrupção.
Obs.: Esse artigo também foi publicado no primeiro livro,
que trata especificamente de Política. Por duas razões, primeiro porque esse
texto fala da “Frente Parlamentar Evangélica” que é uma bancada
político-religiosa, cabendo tanto nesse quanto no outro livro. Segundo, podem
ser adquiridos separadamente e esse assunto abarca os dois temas propostos pelo
autor.
[2] Link do vídeo de Marcos Feliciano:
https://www.youtube.com/watch?v=6kwfNygwroQ
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