Os tempos
mudam, as instituições mudam, as pessoas mudam. Nada nunca é como era antes.
Isso é fato. Mas algumas coisas deveriam se manter imutáveis, pelo menos em
seus princípios morais, éticos e espirituais. Esse é o caso da igreja de
Cristo. Dos cristãos que foram ordenados por Jesus a serem sal da terra e luz
do mundo. Deveriam se manter como Jesus ordenou e os comissionou.
A igreja
passou de uma instituição sem viés político no século I e II da era cristã para
uma igreja que a partir do terceiro século se encharcou no charco de lodo da
politicagem.
Deixou de
ser um ajuntamento de pessoas que em nome de Cristo pregava o Reino dos Céus e
vivia em prol desse reino, com decência e dignidade; para uma instituição que
espera e confia no reino terreno. Nos principados da terra e que por isso
merece a imprecação do apóstolo Paulo, que disse: “Se é somente para esta vida
que temos esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de
compaixão”.
A igreja
deixou de ser perseguida por autoridades públicas a mando dos imperadores
romanos e passou em inúmeros momentos da história a perseguir, a julgar sem
provas ou mediantes a provas espúrias através do Tribunal do Santo Ofício e
outros meios de julgamentos.
Hoje, ela
que foi outrora perseguida tendo líderes e fiéis presos, torturados e até
mortos pelo sistema político, faz o oposto: se uniu ao sistema político e a
concorrentes a cargos públicos e pune pastores e membros que não votam nos
candidatos do pastor presidente, do bispo e do apóstolo dono da instituição.
Sim, a igreja de outrora o Senhor, o Mestre, o Noivo e o Guia era Cristo, hoje
é a autoridade eclesiástica que a fundou ou a preside.
Milhões
de pastores, presbíteros, diáconos e evangelistas estão ameaçados a perderem
seus postos de liderança, a voltarem para o “banco”, a perderem suas funções
eclesiásticas se os mesmos não fizerem campanhas para os candidatos do líder
máximo. Dos donos das instituições.
A
liberdade de expressão, consciência, o direito ao voto secreto não existe em
inúmeros ministérios da Assembleia de Deus, na IURD, na Igreja da Graça,
inclusive de algumas igrejas Presbiterianas e Batistas, as chamadas
protestantes históricas, essas que no passado recente se reputavam como igrejas
éticas e que respeitavam o direito do fiel escolher quem ele bem entender.
Agora, elas colhem assinaturas para partidos políticos dentro do templo,
articulam campanhas até de presidente da República.
Nas
outras denominações pentecostais e neopentecostais a prática da venda de votos
dos fiéis é uma prática abjeta muito antiga. Até a Igreja Católica, outra
instituição que gostava de se gabar por sua posição de somente conscientizar,
está fazendo campanhas em muitas paróquias e muitos padres estão negociando com
o atual chefe do executivo federal apoio em troca de receber milhões em
propagandas do governo em suas emissoras de Rádio e TV.
Até a
cruz, um dos símbolos mais antigos e significativos da igreja cristã, seja ela
com a imagem do Cristo representado, como gostam católicos e ortodoxos, ou
vazia, como gostam protestantes e evangélicos, passou a dividir lugar com outro
símbolo: o sinal de “arminha” em homenagem a Jair Bolsonaro. Na campanha
presidencial passada centenas de igrejas de todas as vertentes cristãs fizeram
campanhas ostentando sinal de armas de fogo dentro dos seus templos, inclusive,
em meio ao culto e missas. Uma aberração dos tempos que vivemos.
As
denominações atuais em nada se assemelham com a igreja primitiva. O livro de
Atos dos Apóstolos nada mais mostra que um ideal de igreja que está a anos luz
das instituições de agora.
A igreja
era outrora digna. Atualmente indigna e conspurcada. Outrora santa e separada.
Atualmente prostituída e maculada. Outrora era a noiva prudente. Atualmente as
noivas néscias. Outrora Sal da Terra e Luz do mundo. Hoje em dia é pedra de
tropeço e escândalo para as nações.
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