Nessas férias eu me dediquei ao estudo da Sociologia e do curso de
formação política que ministrei. Estudando Sociologia me deparei com a história
de vida de acadêmicos de alguns dos nossos maiores sociólogos e cientistas
sociais, tais como Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda, Fernando
Henrique Cardoso e muitos outros. Adoro conhecer as teorias dos nossos grandes
intelectuais e teóricos, mas me preocupo muito em conhecer suas vidas, suas
lutas e suas aspirações.
É por isso, que mesmo não sendo um marxista, eu sempre respeitei Karl
Marx, porque sempre vi nos seus escritos a preocupação com a classe operária,
com as injustiças sociais geradas pelo capitalismo e por tentar propor uma
sociedade distinta daquela regida pelo capital. Uma sociedade igualitária, onde
os oprimidos iriam fazer a revolução e o mundo passaria a ser mais justo.
Com toda crítica que se pode fazer a Marx e sua teoria, não se pode ser
leviano em não admitir que sua intenção era grandiosa. Ele pensava num paraíso
terrestre sem Deus. E muito do que se criticou do socialismo, sobretudo, ao
comunismo real, implantado na URSS, nada mais era que a deturpação ou adaptação
de sua teoria a uma determinada localidade específica: a União Soviética.
Outro teórico que tenho profunda admiração foi o grande educador e
patrono da educação brasileira, Paulo Freire. Pois sua teoria estava profundamente
relacionada a vida das pessoas comuns. Ele tinha a preocupação de escolarizar,
ensinando aos alunos a lerem e escreverem, mas além disso, ele se preocupava em
trazer uma formação cidadã e crítica. Para que os educandos percebessem as injustiças
sociais de maneira crítica, podendo assim ser um agente de transformação
social. Freire era um homem engajado e comprometido em mudar a vida das
pessoas, especialmente dos mais carentes, os colocando como protagonista da sua
própria história.
Milton Santos, grande geógrafo e intelectual negro, é outro teórico
brasileiro que sempre me confrontou com sua profunda sensibilidade. Denunciou
como poucos a globalização, que chamava de globalitarismo, às injustiças
sociais, a concentração de renda e as desigualdades sociais advindas da
perversidade do capitalismo e suas formas de opressão.
Se não fosse negro, com certeza seria muito mais lido e estudado. O
preconceito e o racismo estrutural impedem que muitos o reconheça e admita a
grandeza de seu pensamento, luta e obra.
Josué de Castro, pernambucano de múltipla formação, muito pouco
conhecido do grande público e até de novos intelectuais. Escreveu o clássico:
"Geografia da Fome", na década de 1940, mapeando a fome no Brasil e
no mundo. Toda sua obra revela profunda preocupação com a fome e exclusão
social. Esse autor ligou História, Geografia e Medicina, em torno de um tema, a
produção da Fome no Brasil.
Florestan Fernandes[2], brilhante intelectual,
excepcional professor, escritor e político. Um dos grandes sociólogos da nossa
história. Foi exilado político no período ditatorial. Como marxista, acreditava
que o trabalhador deveria ser bem informado, o que só podia acontecer por meio
da educação. Sempre foi engajado na luta por um ensino melhor. Sempre lutou por
uma educação pública de qualidade. Foi um intelectual engajado e um político
que lutava pelos menos favorecidos.
Darcy Ribeiro, etnólogo, antropólogo, grande educador e político. Talvez
o maior pensador brasileiro de todos os tempos. Criou o Parque Indígena do
Xingu, Museu do Índio, um dos criadores do Manual de Aborígenes do mundo
inteiro, idealizador dos CIEP's no Rio de Janeiro, criou a Universidade de
Brasília, dentre outras coisas.
Tem uma vasta produção literária, projetos de educação federal e
estadual. Foi exilado político, senador, reitor de universidades, Secretário de
Cultura e vice governador do RJ. A lei de Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira (LDB), é chamada de Lei Darcy Ribeiro.
Foi um dos maiores defensores das nações indígenas e denunciou como a
cultura e etnia indígena estava sendo exterminada. Também foi árduo defensor
dos Direitos Humanos.
Escreveu um clássico que deveria ser lido por todos que querem conhecer
a cultura brasileira e os povos tradicionais, o célebre "O povo brasileiro".
Esses são os intelectuais que marcaram minha trajetória acadêmica e
profissional. Sobretudo, me fizeram perceber que o intelectual não é aquele que
racionaliza tudo. Mas é aquele que ama os seres humanos e luta contra toda
forma de opressão e desigualdades entre os homens.
Pois como bem disse Paulo Freire:
"É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de
tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática."
[1]
Escrito em 30/01/2020, como uma
singela homenagem aos grandes intelectuais brasileiros que sempre foram movidos
pela compaixão. Esse excerto é minha homenagem a eles.
[2]
Comentário do professor Paulo
Roberto a esse texto no Facebook: O
Florestan Fernandes sempre teve um dos focos de sua pesquisa conhecer a vida
cotidiana de pessoas comuns, da classe trabalhadora paulista. Florestan, ao
contrário de seus colegas, como Fernando Henrique, etc., tinha origem humilde.
Sua mãe foi empregada doméstica, e ele mesmo chegou a ser garçom. Livros como
"O Negro no Mundo dos Brancos" e "O Negro na Sociedade de Classes"
são ao mesmo tempo, pesquisas empíricas, mas são meio autobiográficas, já que
ele estava pesquisando algo que ele conhecia de perto, a vida da classe
trabalhadora paulistana. O Josué de Castro, inexplicavelmente, é pouquíssimo
lido nas Ciências Sociais. Josué de Castro ligou História, Geografia e
Medicina, em torno de um tema, a produção da Fome no Brasil. Ele, junto com
Alberto Passos Guimarães merecem ser relidos, ou lidos, dependendo do caso.
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