Eu escrevi
cinco textos nos quais aponto as razões da vitória de Jair Bolsonaro à
Presidência da República. A primeira foi o antipetismo. A segunda foi o fato de
milhões de pessoas alimentarem ideias como as de Bolsonaro. A terceira foi o
fato de o PT querer sempre ser protagonista. A quarta, o fenômeno das fake
news. O quinto motivo, o desgaste da sociedade com tanta violência. Agora,
quero analisar o principal peso, a meu ver, a favor do deputado: o apoio maciço
e significativo de líderes católicos e evangélicos ao candidato do PSL.
Não faço neste
texto a análise que já fiz em outros, dissertar sobre a distinção entre as
ideias de Jesus e dos evangelhos com as de Bolsonaro[1].
Aquilo a que me aterei aqui é mostrar como foi decisivo (no primeiro turno) e
será crucial agora (no segundo turno) o apoio de tais líderes ao
presidenciável.
Essa eleição
será marcada pela transformação inegável de cultos e missas em comícios e de
púlpitos em palanques de políticos. Igualmente de pastores e padres em cabos
eleitorais profissionais!
Nenhum cabo
eleitoral é melhor e mais capaz de atrair tantos votos como os líderes
religiosos. E isso é simples: ninguém a não ser eles têm a “prerrogativa
oficial” de falar em nome de Deus!
Nenhum artista, esportista ou qualquer outro ser humano usa o nome de Deus ou
de quaisquer seres sobrenaturais para pedir votos, como o fazem tais líderes.
Ou seja, quando Edir Macedo declara apoio a Bolsonaro, como no passado declarou
a Collor, em troca da viabilização da compra da Rede Record e do ganho de
dezenas de rádios, o candidato ganha automaticamente milhões de votos. A massa
ignara que são os fiéis da Igreja Universal votará sem sombra de dúvidas, pois
o pedido do “bispo” equivale ao pedido do próprio Deus!
Essa lógica e
premissa servem aos demais líderes politiqueiros: Malafaia, Valdemiro, Manoel
Ferreira, Samuel Câmara, Estevan Hernandes, R.R. Soares, Marcos Feliciano e
muitos outros. Todos eles que possuem milhões de seguidores em sua igreja (Era
isso?)apoiam e pedem votos para Jair Bolsonaro em seus cultos.
Até a Igreja Católica, que comumente não apoia de maneira expressa nenhum
candidato, apenas deixando claras suas posições morais, teve neste momento
político um número expressivo de padres pedindo votos para o “mito”, inclusive
em programas de TVs, como “Canção Nova” da Renovação Carismática. Também o
fizeram durante a celebração da missa, como ocorreu no último dia 30/09/2018,
uma semana antes do primeiro turno, na Paróquia de Nossa Senhora da Assunção em
Cabo Frio (vídeo postado por mim no Facebook[2]).
O pastor Hermes
C. Fernandes denuncia esse fenômeno antigo da igreja evangélica que é o apoio a
políticos, dizendo:
“As pessoas dizem que com apenas 8
segundos na TV Bolsonaro conseguiu conquistar a opinião pública. Isso é obviamente
uma mentira. Ele conseguiu porque mesmo tendo esse minúsculo tempo na TV ele
teve milhares de horas de propaganda em milhares de púlpitos das igrejas
evangélicas no Brasil. As igrejas evangélicas se tornaram comitês eleitorais
dele. Os pastores passaram a ser cabos eleitorais dele. A ponto de fazerem
estudos bíblicos, a ponto de dedicarem vários cultos a convencerem seus
rebanhos a votarem a favor de um homem cujo discurso é totalmente contrário ao
espírito do evangelho. Sabe o que me assusta, eu já vi esse filme antes, Hitler
conquistou a grande maioria do eleitorado alemão através do apoio das igrejas.
Foram pastores e padres que se dedicaram a colocá-lo no poder.”
Foi através do
apoio das igrejas, sobretudo, dos pentecostais e neopentecostais, que Jair
Bolsonaro conseguiu penetrar nas camadas mais populares, pois seus eleitores
tradicionais são da classe média e alta. Os eleitores de baixa renda
normalmente votam no PT, por causa das políticas assistencialistas e do apoio
do partido às minorias historicamente oprimidas.
O professor
Moisés Messias em comentário a um dos meus posts disse: “As igrejas
tradicionais também entraram na onda do ódio. Ou seja, estão pregando um
desevangelho em nome de uma pseudomoralização social baseado na moral de rebanho,
na alienação, na doutrinação ‘teológica’, na espiritualização das esferas
mundanas para favorecer esta casta de fariseus e ‘puritanos’ de quinta
categoria.”
Vale lembrar
que os ditos cristãos, conforme o censo de 2010[3], são
87% da população brasileira. Aproximadamente 65% católicos e 22% evangélicos.
Assim, verifica-se que o apoio dessas lideranças e a lavagem cerebral em seus
cultos e missas a favor de um candidato faz com que a vitória do mesmo seja
irreversível e incontestável.
[1] Texto em que faço isso é: “Por favor, cristãos, respondam a esse cético”.
[2] Nesse
vídeo os fiéis gravam o padre pedindo votos de maneira indireta a Bolsonaro, dizendo que no próximo domingo
ocorreria a eleição presidencial, que a mesma terminaria às 17 horas e que eles
não deveriam esquecer o número 17. Muitos ouvintes católicos saíram revoltados
e fizeram que o vídeo chegasse à Arquidiocese de Niterói. Como consequência o
bispo suspendeu as funções eclesiásticas do pároco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário