CURIOSIDADES

visitantes

contador de acesso

sexta-feira, 31 de março de 2017

Intolerância Religiosa e o Monoteísmo


Certa feita, numa escola pública que lecionava, a diretora me chamou preocupada, pois um pai havia reclamado de uma das minhas aulas, cujo tema era “Discriminação e formas variadas de intolerância”, pois segundo o pai, o filho dele havia ficado perplexo, pois eu afirmei em aula que as religiões monoteístas são mais intolerantes que as politeístas e outros grupos religiosos.
A diretora sabiamente contornou a situação, e me disse que aquele pai era um líder de uma igreja evangélica do bairro, uma pessoa extremamente dogmática e religiosa. Eu pedi para que ela o chamasse para conversar comigo, pois eu iria explicar a ele o porquê das religiões monoteístas serem tão intolerantes, e isso por motivos óbvios, e que se ele conhecesse bem as religiões monoteístas, saberia que a intolerância é a sua marca. Além do mais eu não citei nominalmente religião nenhuma, só o termo genérico monoteísmo. Mas infelizmente, aquele homem não me procurou!
Por que será que eu afirmo tão veementemente que as religiões monoteístas são mais intolerantes que todos os outros grupos? Por que também afirmo que a intolerância é a sua marca? Será que não estou equivocado?
Em primeiro lugar, todas as religiões são intolerantes. Sejam elas politeístas, monoteístas, animistas, sejam elas reencarnacionistas e etc., e isso pelo simples fato de todas elas afirmarem possuírem a verdade. E suas verdades serem absolutas, peremptórias, indubitáveis e eternas. Isso porque segundo as religiões, suas verdades (dogmas) são revelados por Deus. Se são revelados por Deus quem pode questioná-los?  Ninguém, assim pensam os religiosos. É por isso que os dogmas são indiscutíveis, por exemplo a crença na Trindade, no Celibato dos Clérigos (no catolicismo), na ressurreição de Cristo, na reencarnação (no Budismo, Hinduísmo e Espiritismo), na infalibilidade Bíblica ou Corânica como única regra de fé e prática e tantos outros milhares de dogmas.
Em segundo lugar, aí já falando do monoteísmo, ao afirmar a crença num único Deus, eu esteja também afirmando a inexistência de todos os outros deuses ou a sua falsificação. Pois se existe um único Deus esse Deus tem que ser necessariamente de quem faz essa afirmação. Eis aí, porque é tão óbvio perceber sem nenhum esforço mental, o porquê da Intolerância dos monoteístas.
Vejamos o que diz Deuteronômio 6:4, que é a primeira confissão do monoteísmo no mundo, o texto mais importante para o judaísmo:
Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Deus.     
  Se analisarmos esse verso do Velho Testamento que introduz o monoteísmo no mundo, fica claro a intolerância explícita nele. Pois o texto afirma que só existe um Deus e essa deidade é o venerado em Israel, portanto, todos os outros deuses sem exceção são falsos, não existem, são meras fabricações humanas.
Se olharmos o politeísmo, também chamado pejorativamente de paganismo, após a instauração do catolicismo como religião oficial em Roma, veremos que eles são um pouco mais tolerantes em relação a outros deuses e religiões. Por exemplo, na cidade politeísta de Éfeso, uma polis grega, famosíssima na Antiguidade, havia um lugar destinado à adoração de milhares de deuses, tanto os de Éfeso e das outras polis gregas, como de todos os lugares conhecidos. Mas entre aqueles inúmeros altares havia um bem interessante, nele estava escrito: “Ao Deus Desconhecido”. O que esse altar e nome estranho queriam informar? Ele queria informar que se houvesse algum deus no mundo, que não foi representado e não tinha naqueles inúmeros santuários um local para adoração, aquele escrito “Ao Deus Desconhecido” era o seu.
A lógica do politeísmo não é excludente e exclusivista, por mais que não abram mão de seus deuses e dogmas. Sempre estão abertos a inclusão de outros deuses, “todos são bem-vindos”, os politeístas querem estar bem com todo mundo, melhor, com todos os deuses. Uma cena na novela da Record, que trata do cativeiro dos judeus em Babilônia, vista por mim, sem querer, na terça-feira passada, deixa claro o pensamento politeísta. Após o profeta Daniel revelar o sonho do rei caldeu Nabucodonosor, o imperador disse: “Vamos adorar agora, também, o deus dos judeus, mas Marduque sempre será o nosso principal Deus”.
Já a lógica monoteísta não é inclusiva, como a politeísta, mas excludente, exclusivista e intolerante. Isso porque ela afirma um único Deus como verdadeiro e renega a todos os outros deuses como falsos. É por isso, que é muito comum chamar as divindades alheias de Diabo e Demônio. Além de nunca reconhecerem e darem crédito a quaisquer manifestações religiosas além das suas.

Se você é monoteísta, como o são a maioria absoluta dos brasileiros, pois somos uma civilização judaico-cristã, pelo menos admita, que a intolerância é a sua marca. Por mais politicamente incorreto que seja está palavra! A definição do monoteísmo já introduz o exclusivismo.       

Nenhum comentário:

Postar um comentário