Em minha
pós-graduação de História e Cultura Afro-Brasileira (Ferlagos, 2008), fiz uma
monografia de 116 páginas sobre o Tráfico Atlântico, no século XIX, para o Rio
de Janeiro. Agora, reestudando e revisitando o tema, reflito sobre o horrendo e
vil comércio negreiro.
Em
meados do século XV, quando os portugueses chegaram ao Continente Africano,
capturaram pessoas e os colocaram na condição de escravizados. Duas expedições
importantes com esse fim ocorreram em 1441 e, depois, em 1444. Essa última
gerou o primeiro leilão de escravos africanos da história: uma carga de 235
cativos, entre homens, mulheres e crianças, que foram arrematados, em Algarve,
Portugal[1].
Logo a
seguir, os portugueses se atentaram quanto aos riscos que trazia tal aventura,
de apresamento de africanos. Com isso, passaram a praticar o escambo com grupos
locais que se interessavam em mercadorias europeias. Em princípio, os europeus
ofereciam tecidos, trigo, sal e cavalos. Mas, desde logo, armas e munições
passaram a desempenhar um papel fundamental nessa relação, pois, de fato, o
grupo que dispunha de armas de fogo adquiria enorme superioridade no tocante
aos outros, permitindo-lhes escravizar – e não ser escravizado – graças às suas
vantagens bélicas.
Com o
comércio de escravizados chegando à América, especialmente ao Brasil –
principal recebedor de cativos do mundo –, outros produtos passaram a ser
trocados por escravos, como o tabaco, a aguardente e o açúcar. Assim, o tráfico
Atlântico nos revela um elemento muito importante de sua perversidade
intrínseca: escravos eram adquiridos pelos traficantes por mercadorias
produzidas pela força do trabalho escrava, e os novos cativeiros teriam, por
função, reproduzir essa cadeia nefanda.
A
história do apresamento de africanos e nativos (os índios brasileiros), o
tráfico Atlântico, juntamente com o trabalho compulsório desenvolvido por mais
de 350 anos no Brasil, é, com certeza, a fase mais vergonhosa e inominável de
toda a nossa história.
Essa é a
raiz de toda a desigualdade social e racial, no Brasil. Assim, como da não
valorização do trabalho manual, feito outrora por cativos e, atualmente, por
seus descendentes, em detrimento ao trabalho intelectual desenvolvido pelas
elites escravocratas e pela maioria de seus herdeiros, atualmente.
A
reflexão sobre o passado e sua íntima relação com o presente sempre se fará
necessária, pois a disciplina História, não somente estuda o tempo pretérito,
mas a sua relação com o presente e, acima de tudo, às mudanças e permanências
que ocorreram através do tempo.
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