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segunda-feira, 17 de maio de 2021

Reflexões sobre Homofobia e sua criminalização[1]

 

 

Durante minhas aulas de Sociologia, falo sobre diversos tipos de discriminação. Os temas que tenho abordado são sobre o preconceito, racismo, injúria racial, misoginia, xenofobia e homofobia.

Muito mais importante que levar conhecimento a meus alunos sobre essas temáticas, que são importantíssimas, é levar cidadania e humanização.

Dentre esses tópicos, gostaria de esclarecer o leitor sobre a Homofobia. Isso porque, dentre as discriminações ela e a misoginia são as mais expressivas no Brasil. Infelizmente em nosso país há uma generalização desse comportamento. Atitude essa que tem sido reforçada quando autoridades políticas e religiosas fazem discursos homofóbicos, o que de certa forma "autoriza" outros a fazê-los ou encoraja-os.

O termo homofobia surgiu pela primeira vez nos EUA, nos anos 70. Mas foi a partir dos anos 90 que passou a ser difundido no mundo.

Homofobia é o ódio ou aversão aos homossexuais ou à homossexualidade, é o preconceito e a discriminação contra gays, lésbicas, transexuais, travestis e bissexuais.

O que caracteriza a homofobia são o sentimento e ações de perseguição, xingamento, humilhação, difamação até assassinato de homossexuais ou LGBTQ.

Muitas pessoas erroneamente acreditavam que a Homofobia era crime no Brasil há alguns anos. Ledo engano! Só há 8 meses ela foi reconhecida legalmente como conduta criminosa, no dia 13/06/2019.

E o mais interessante é o fato de que quem a determinou como conduta criminosa foi o Supremo Tribunal Federal (STF), alegando omissão inconstitucional do poder legislativo. Foram 10 de 11 ministros que reconheceram a letargia do parlamento em tratar do tema.

Diante desta omissão, por 8 votos a 3, os ministros determinaram que a conduta passe a ser punida pela Lei de Racismo (7716/89), que hoje prevê crimes de discriminação ou preconceito por "raça, cor, etnia, religião e procedência nacional".

O que eu queria discutir com esse texto é o que gerou essa evidente omissão legislativa em relação a essa questão. Por que a nação onde mais LGBTQI+ são assassinados no mundo demorou tanto a criminalizar a homofobia?

Porque infelizmente a maioria absoluta dos brasileiros são homofóbicos. Aprovar uma lei que puna essa conduta nefasta é o mesmo que fazer com que os parlamentares que votassem a favor dessa matéria perdessem milhares de votos, podendo por fim a sua carreira política.

Pense comigo! Imagine parlamentares da segunda maior bancada do Congresso Nacional, a Frente Parlamentar Evangélica, ter um ou mais de seus membros votando favorável à lei que puniria a homofobia. Esses congressistas não ganhariam mais eleições nem para síndicos de prédio, quanto mais para deputados e senadores, ainda seriam execrados por suas bases eleitorais, as igrejas evangélicas, sendo taxados de endemoninhados e apostatas da fé.

Mesmo outros parlamentares que não fazem parte da bancada religiosa ao votarem a favor dessa matéria, perderiam milhares de votos. Já deixei bem claro que a homofobia é uma discriminação horrenda, porém generalizada na sociedade brasileira.

Pode parecer antagônico, porém o que dá milhares ou até milhões de votos no Brasil não é combater a homofobia, como parece ser o correto e sensato. Mas ao contrário, é fazer declarações homofóbicas, é destilar preconceito, é ser insensível e desrespeitoso com a sexualidade dos homossexuais, é acusar os gays e lésbicas de promíscuos e coisas terríveis e vis. Pois, fazendo assim, aqueles milhões de discriminadores dirão: “Esse me representa. Esse tem coragem de dizer o que eu penso.” Ou ainda: “Esse tem coragem de expressar o que eu não tenho coragem, mas acredito que seja o certo.”

É por isso que muita gente não compreendeu o sucesso de políticos como Jair Bolsonaro e de líderes religiosos como Silas Malafaia. Eles simplesmente são porta vozes de milhões de pessoas que pensam como eles, que são discriminadores e homofóbicos como ambos. Muitos explicitam suas discriminações outros por medo ou receio de se expressarem e serem mal vistos, têm neles seus heróis, suas vozes, suas inspirações.

Sei que é difícil e desalentador admitir que somos um povo medíocre, preconceituoso, insensível e ignorante. Que tratamos nossos semelhantes, os homossexuais, como se fossem inferiores e anormais. Mas anormal e horrendo são aqueles que não conseguem enxergar e constatar que o outro tem o direito de ser, viver e crer de forma diferente. Que a mesma humanidade que os heterossexuais possuem, os homossexuais também possuem. Que a mesma cidadania e respeito dado a um têm que ser imputado ao outro.

Em tempos de perseguição ao STF, que eu sempre destilei duras críticas, vai aqui meu agradecimento, por ter feito dessa prática horrenda, a Homofobia, crime no Brasil.





[1] Texto escrito motivado por uma série de aulas que ministrei sobre Homofobia. Esse texto faz parte da aula sobre a criminalização da homofobia e por que o poder legislativo se eximiu de criminalizá-la. Foi escrito em 04/03/2020.

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