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quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Relacionamento a Dois e a Lógica de Mercado (por Acioli Junior)


Vivemos dias difíceis. Tenebrosos! Não está fácil pra ninguém. Até aqueles que possuem um poder aquisitivo alto ou se destacam socialmente (jogadores, artistas, políticos, traficantes e etc.) têm dificuldades de se relacionar num mundo de relações líquidas e de tempos líquidos, pelo simples fato de que facilidade não é sinônimo de reciprocidade, estabilidade relacional e de cumplicidade, muito pelo contrário, pode significar relações vazias, fúteis, sem comprometimentos e descartáveis.

No início do século XXI ou agora em 2020, se um jovem ouvisse de seus avós as histórias de como era o namoro deles há 40 anos, ficará estarrecido pensando que isso ocorreu no Paleolítico com os homens e mulheres da caverna, mesmo com pouca proximidade temporal. Essas poucas décadas geraram uma profunda Revolução nas relações a dois.

As famosas bodas de prata, ouro e diamante foram dando lugar ao “ficar”, ao sexo sem compromisso e sem laços afetivos. As separações estão cada dia mais corriqueiras e normalizadas nas sociedades contemporâneas.

Essa inconsistência nas relações, tão presente atualmente, foi prevista pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em “Amor Líquido”. Na obra, ele discute os relacionamentos na contemporaneidade, em que nada é feito e que escorre pelos vãos dos dedos.

Bauman faz uma metáfora das relações com um vaso de cristal, que quebra na primeira queda. As crises, assim, não são mais para ser superadas, e sim, tornam-se o motivo para o fim do relacionamento.

Os relacionamentos nos dias atuais possuem a mesma lógica de Mercado, veja os exemplos abaixo:

Aparelhos eletrônicos, eletrodomésticos, carros e móveis não são feitos para durar, são planejados na intenção de serem substituídos em pouquíssimo tempo, no que se chama de obsolescência programada que “é a decisão do produtor de propositadamente desenvolver, fabricar, distribuir e vender um produto para consumo de forma que se torne obsoleto ou não-funcional especificamente para forçar o consumidor a comprar a nova geração do produto”. Já a obsolescência perceptível, conforme Layrargues (2005, p, 183) acontece quando as pessoas são induzidas a consumir bens que se tornam obsoletos antes do tempo, tendo em vista que atualmente os produtos saem das fábricas com tempo de validade preestabelecidos.

Desta forma, observa-se que os avanços tecnológicos contribuem para o descarte de produtos que ainda poderiam ser úteis. A todo o momento aparecem produtos mais sofisticados no mercado. Percebe-se, assim, uma clara união entre a obsolescência perceptiva e a criação de “demandas artificiais no capitalismo”, induzindo o indivíduo ao pensamento ilusório de que a vida útil do seu produto esgotou-se, mesmo que ele ainda esteja em perfeitas condições de uso. (Santos Junior, p. 6).

Até os relacionamentos a dois, casamento, noivado e namoro, incutiram essa e outras lógicas de mercado, que é a ideia que relação tem prazo de vaidade ou que pode ser brevemente substituída por “aquele ou aquela” que se apresentar melhor, mais belo, mais atlético, mais sexy, mais rico, que seu parceiro ou parceira.

Outras duas lógicas mercadológicas têm dominado os relacionamentos interpessoais em nossos dias: a lógica do “Descartável” e do “Não tem Conserto”.

A lógica do Descartável é aquela do “usou e jogou fora”. Como copos e pratos plásticos que são usados em festas, que após seu uso, vai para o lixo, diferente das louças de porcelana e vidro que são lavadas com cuidado e guardadas. Há algumas décadas, as pessoas substituíram o uso do vidro e da porcelana pelo plástico descartável, para simplesmente não terem trabalho. Infelizmente essa lógica passou para as relações conjugais e afetivas quando se consegue chegar a elas, normalmente ficamos no “ficar” e no sexo casual, mas até essas relações aparentemente mais duradouras tornaram-se meramente descartáveis. Nos EUA, por exemplo, de cada 10 casamentos, 5 se separam em menos de uma década, no Brasil e na Europa, não é diferente, mesmo sendo nós majoritariamente uma civilização cristã, que se casam ouvindo o sacerdote dizer: “até que a morte vós separe”, essa frase perdeu-se a importância nos últimos tempos, tornando-se apenas um clichê bonito de ouvir e dizer!

Outra lógica dos dias atuais é a do “Não tem Conserto”. Ela é mercadológica e baseia-se na facilidade de ter produtos semelhantes ou similares a preço baixo, não significando que não haja conserto de fato em seu produto que por algum motivo esteja com problemas, mas que simplesmente é mais fácil substituí-lo por um novo do que investir tempo, dinheiro e afetividade em restaurá-lo. É só lembrarmo-nos do trabalho minucioso e cuidadoso dos restauradores do Patrimônio Histórico para perceber que é mais fácil e rápido substituir que restaurar. Essa mesma ideia, assim como a do “descartável” passou a dominar as relações interpessoais. Sendo mais fácil substituir uma relação que tem mostrado algum problema, mesmo que o problema seja de fácil ou média resolução, por novas relações. Até com os verdadeiros amigos de longa data temos agido com semelhante lógica, pois só eles têm coragem de dizer-nos duras verdades que ninguém ousaria nos falar, talvez por isso, queiramos substituir esses nobres companheiros, por mais um colega, sem nenhuma profundidade relacional.

Contra toda essa lógica descrita acima, foi gravado o filme cristão cujo título é “Prova de Fogo”, que apresenta a ideia de restauração e luta pelo relacionamento esfacelado e problemático com tudo para ser destruído. Essa obra cinematográfica tem como protagonista um bombeiro que perdeu o interesse pela sua esposa e viu seu casamento desmoronando. Na tentativa de reverter a situação, ele resolve procurar ajuda em um livro cristão de Autoajuda. Guiado pelo livro e com o auxílio de seu pai, ele embarca em uma missão de 40 dias para salvar seu casamento do divórcio.

Diante do exposto, só temos duas saídas, ou vamos pela via mais fácil, que é sucumbir e ceder a Lógica de Mercado nas relações interpessoais, ou seja, vivermos em relações líquidas, não sólidas e sem raízes, num eterno troca-troca, sem compromissos e sem uma história de vida. Ou buscamos o caminho estreito, difícil e escabroso, que é investir numa relação duradoura e seus muitos percalços, essa segunda via só é possível com o amadurecimento pessoal, capacidade de perdoar, doação, reciprocidade e compaixão.

Devemos fazer uma introspecção e procurar o melhor caminho. Lembrando que hoje se relacionar não está fácil pra ninguém, nem para o autor do texto!!

 

 


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