Na quarta-feira, 9 de maio de 2017, participava
de um Conselho de Classe na minha escola no município de Rio das Ostras. Como
muitos professores são oriundos da cidade de Casimiro de Abreu e principalmente de seu distrito, Barra de São
João, eu aproveitei para entrevistá-los sobre a Ponte[1]
Caída de Barra,[2]
queria saber quando a ponte foi construída, quem a mandou construir (em qual
governo), qual a finalidade de sua construção e, principalmente, quando ela
caiu.
Esse meu interesse pelo local advém do meu
livro “Roteiro Ambiental e Patrimonial da Cidade de Cabo Frio”, pois nele eu
faço a narrativa histórica de bens culturais e ambientais do segundo distrito
de Cabo Frio, das suas praias (Unamá, Aquários e Pontal) e dos rios São João e
Una. O supracitado Rio São João tem a sua foz na praia do Pontal, e a ponte ou
as pontes que esse rio atravessa abaixo fazem a divisão territorial entre os
municípios de Casimiro de Abreu e Cabo Frio. Portanto conhecer a história local
é do meu total interesse.
As entrevistas responderam algumas das minhas
perguntas; descobrir a data da construção da Ponte, ano de 1942 e sua
finalidade: servir como ferrovia, não como rodovia, como pensam as pessoas que
não conhecem sua história. Porém, eles não souberam responder a principal
questão, a data da queda da ponte. Nem nos sites das duas prefeituras (Casimiro
de Abreu e Cabo Frio) trazem essa informação. Entretanto, eles me indicaram uma
certa senhora, dona Elza, moradora e comerciante de Barra de São João, uma
profunda conhecedora da história e “causos” da localidade.
Eles não indicaram a data da “queda” da Ponte
Caída de Barra de São João, porque a mesma caiu em vários momentos distintos
nos anos 1950 e 1960, deixando-nos um lindo visual. Foi se tornando o mais
famoso Cartão Postal da localidade, tanto para Casimiro de Abreu como para Cabo
Frio.
Após o final do conselho de classe, prontamente
me dirigir a casa dessa senhora, encontrei seu comércio fechado e decidir não
chamá-la em casa, pois já era quase noite e chovia. Então, me dirigir a Campos
Novos, Segundo Distrito de Cabo Frio. Fui à casa de minhas tias[3]
e começamos a falar das histórias e principalmente das lendas envolvendo a
Fazenda Campos Novos e região.
Ao relatar a ambas os resultados de minhas
entrevistas e falar sobre a estação ferroviária de Barra de São João e da
finalidade da Ponte Caída, que era servir como ferrovia, minhas tias disseram:
“mas aqui também tem uma estação ferroviária bem perto, ela está em área da
Marinha, perto da escola pública municipal”. Eu fiquei estupefato com o que
ouvi, admirado, alegre. Pois eu ouvi pela primeira vez sobre um monumento
histórico, o qual estava bem próximo, e os livros de História de Cabo Frio, que
não são muitos e já os li todos, nenhum falava dessa estação, muito menos sobre
a possibilidade de passar trens nessa localidade.
O mais interessante foi ouvir sobre um
monumento histórico importantíssimo para a história da cidade de Cabo Frio,
especialmente para o Segundo Distrito, mas as pessoas que falaram dele pareciam
estar relatando de algo totalmente sem importância, insignificante. Eu disse
para minhas tias: _ “Ninguém pode valorizar aquilo que não foi educado para
valorizar, muito menos porque o poder público (municipal e federal - já que a
área pertence à Marinha, ou seja, à União) também não valoriza seus
patrimônios”.
É fundamental as pessoas serem educados
patrimonialmente, para assim valorizarem sua história, memória e identidade
cultural. Por isso urge um trabalho sério com nossos alunos para que eles
respeitem e se identifique com o patrimônio da localidade à qual pertencem. Da
mesma forma, que é necessário o poder público, nas esferas municipal, estadual
e federal dar o devido valor ao rico patrimônio da localidade. Se o governo não
os valorizar, dificilmente os governados os valorizarão.
É inaceitável saber que um monumento histórico
está abandonado a quase um século, sem que o poder público, as escolas, os
pesquisadores e a própria comunidade local o conheçam. Ele está há décadas
imperceptível e abandonado em meio a um matagal, como sendo algo de pouca
importância, e o pior, a poucos metros de uma escola pública municipal. Mesmo
assim os professores e alunos não conhecem a estação, muito menos sua história.
Fiquei muito feliz enquanto pesquisador por ter
descoberto essa subestação e muito triste por mais uma vez constatar que Cabo
Frio e o Brasil tratam tão mal da sua história e seu patrimônio cultural!
Obs.: 1 Ainda se pode ver a Estação Ferroviária
de São Pedro da Aldeia, hoje sede do IPHAN, a de Barra de São João intacta e a
de Campos Novos, no meio do matagal nas áreas pertencentes a Marinha do Brasil,
perto do trevo de Búzios. A Estação de Cabo Frio fica no Bairro Boca do Mato e
ainda está preservada (não como deveria), mas aos cuidados de particulares. A
de Rio das Ostras já foi completamente destruída, conforme relatos de seus
antigos moradores que por mim foram entrevistados. Também foram destruídas as
mais antigas estações ferroviárias da Região dos Lagos, a de Conde de Araruama
e Iguaba Grande, tendo somente lindas fotos de recordação das mesmas. A do
município de Iguaba Grande ficava situava no Bairro ironicamente chamado de
“Estação”.
Obs.: 2 “Por ocasião da Segunda Guerra Mundial,
a E. F. Maricá tinha interesse em alcançar a localidade de Macaé. Para tal, foi
criado o posto Telegráfico Fonseca no Km 156, de onde partiria a linha em
direção a Macaé, atravessando as comunidades de Búzios (Campos Novos), Rio das
Ostras, Barra de São João e Rio Dourado, daí até Macaé, margeando a rodovia. Em
Barra de São João ainda existe uma estação ferroviária com plataforma e dizeres
alusivos à EFM. Uma ponte sobre o Rio São João foi construída para atender o
tráfego ferroviário. Em Rio das Ostras havia a cerca de 20 anos atrás, uma
estação ferroviária. Segundo informações de moradores antigos da região, nesse
trecho ferroviário passaram somente autos de linha e troles, nunca circulando
qualquer trem comercial” (Rodrigues, 2005.)
[1]
Ao lado dessa ponte está à ponte
“nova” que faz divisa entre os municípios de Cabo Frio e Casimiro de Abreu. No
lado de Cabo Frio, fica o bairro de Santo Antônio, no Segundo Distrito, no lado
de Casimiro, seu Distrito chamado Barra de São João, por isso, ela é conhecida
como ponte Caída da Barra.
[2] A entrevista teve a finalidade de saber
sobre a Ponte, porque no meu Roteiro Ambiental e Patrimonial, escrevo sobre as
três praias do segundo Distrito: Unamar, Aquarius e Pontal (essa última próxima
à ponte) e sobre os Rios Una e São João (esse último tem a foz na praia do
Pontal, junto à ponte). Por isso se fazia necessário contar a sua história, era
algo imprescindível a meu trabalho!
[3] Minhas tias, que chamamos carinhosamente de Tia Dora e Tia Dadá, são nascidas e criadas em Campos Novos, assim como minha mãe que nasceu dentro da Fazenda de mesmo nome. Elas moram a mais de 60 anos no local e conhecem muitas histórias da região.
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