Estamos
vivendo tempos sombrios na política nacional. Temos a polarização odienta que
toma conta do país dividindo-o de um lado e, do outro, observamos o culto e a
adoração a velhos cacifes políticos, especialmente aqueles que pleiteiam cargos
do poder executivo (presidente da República, governadores de Estado e
prefeitos).
O povo
brasileiro tem uma velha tradição de tão somente valorizar e fazer campanhas
entusiásticas para cargos eletivos do executivo, além do fato de que pesquisas
já comprovaram que 79% dos eleitores brasileiros[2] esquecem para quem votaram
tanto para deputado federal, como para senador da República, com enorme
facilidade, deixando nítido a desatenção com os parlamentares[3] e com o poder legislativo
como um todo.
Essa
menor importância os eleitores dão aos vereadores, em âmbito municipal, aos
deputados estaduais e distritais, em âmbito estadual/regional e, aos deputados
federais e senadores, em âmbito federal, infelizmente é histórico e notório. As
pessoas mal sabem a função desses cargos. Poucos sabem que eles devem
fiscalizar o poder executivo, como propor Comissão Parlamentar de Inquéritos
(CPI) e o processo de impeachment do chefe do poder executivo, como também
elaboram projetos de lei, que afetam diretamente toda a coletividade. O bem-estar
pessoal e da nação como um todo perpassam pelas decisões das Câmaras
Municipais, das Assembleias Estaduais e do Congresso Nacional[4].
Sabendo-se
da relevância do Poder Legislativo, como deveríamos votar para eleger os
vereadores e os nossos parlamentares?
Em
primeiro lugar, deveríamos votar em vereadores do nosso bairro porque, ao
fazê-lo, estaremos elegendo uma pessoa que mora próximo e seria quem podemos
recorrer e cobrar o bom funcionamento dos serviços públicos que ocorrem em
nossa localidade, como escolas, postos de saúde, praças públicas e creches, por
exemplo.
O mesmo
ocorre com os parlamentares. Devemos votar em deputados estaduais e federais da
nossa cidade. Assim sendo, o estadual eleito irá pleitear junto ao governador
serviços públicos para o nosso município, ao invés de lutar por uma outra
cidade. Isso não é egoísmo, é sabedoria, pois, infelizmente no meio político
prevalece a máxima “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Portanto, devemos
eleger parlamentares que são nossos conterrâneos, que conhecemos, que moram
próximos de nossas residências para, assim, vermos os serviços que tanto
ansiamos e precisamos para a nossa comunidade, de fato acontecerem. Já os
deputados federais podem trazer verbas da União para o município ou mesmo
recursos financeiros oriundos das famigeradas emendas parlamentares.
A outra
razão fundamental de como eleger vereadores e parlamentares é votar em quem faz
parte do mesmo grupo político e apoia o nosso candidato ao poder executivo.
Traduzindo, não adianta votar em Lula para presidente e num deputado federal e
senador bolsonarista; muito menos, votar em Bolsonaro para presidente e em
parlamentares ciristas[5] ou petistas; também não
adianta votar em Claudio Castro para governador e num deputado estadual que é
da base da candidatura do Marcelo Freixo, seu adversário político; nem votar em
José Bonifácio para prefeito de Cabo Frio, minha cidade, e em vereador da
bancada de doutor Serginho e vice-versa. Devemos, portanto, sempre votar em
parlamentares e vereadores alinhados com o nosso voto ao chefe do executivo
municipal, estadual e federal.
A
penúltima razão para eleger candidatos do poder legislativo é estar de acordo
com seu projeto parlamentar, com suas propostas legislativas e ter uma
afinidade e concordância ideológica com os candidatos. Questione os aspirantes
a cargos públicos sobre suas propostas e veja se as mesmas são exequíveis ou
não.
A última
e fundamental razão, tão importante quanto às demais é votar em alguém que
representa a sua classe social e os anseios e lutas dos seus pares, ou seja, a
classe trabalhadora tem que parar de eleger aqueles que defendem tão somente
ou, exclusivamente, os empresários, muita das vezes sendo favoráveis à perda de
diretos trabalhistas e previdenciários do trabalhador; menos ainda, devemos
eleger ruralistas e madeireiros, sendo nós defensores do Meio Ambiente. Da
mesma forma que negros e índios não devem votar em quem são contrários aos
direitos constitucionais das nações indígenas e dos quilombolas, como o direito
à demarcação e a posse das suas terras, só para citar um exemplo. Vote em quem
têm compromissos e vai lutar pelos anseios da sua classe social e do seu
grupo.
O grande
e grave erro da maioria dos eleitores brasileiros está no fato de não possuírem
consciência de classe. Com isso, elegem pessoas que representam classes
antagônicas a sua.
Não
devemos esquecer jamais que, numa democracia representativa, na qual elegemos
nossos representantes legais, o voto exerce o poder de uma procuração, pois
estamos passando por meio dele o poder para outros nos representarem. Votamos em cargos do executivo para governar
e gerir o nosso município, estado e nação. Da mesma forma que vereadores e
parlamentares fazem leis em nosso lugar. Portanto, a nossa responsabilidade,
enquanto cidadãos, é enorme nesse sistema político.
Devemos
votar com responsabilidade sempre almejando o bem comum. A coletividade precisa
se sobrepor aos interesses pessoais, assim como devemos denunciar a compra de
votos e o recebimento de qualquer benesse dos candidatos como moeda de troca
para convencer eleitores. Um cidadão consciente não está à venda e não negocia
seus valores por benefícios em período eleitoral.
[1] Texto escrito dia 29 de agosto de 2022,
para que os eleitores tenham estratégias para escolher os candidatos do poder
legislativo, além de perceberem a importância e a função desse poder.
[2]
https://exame.com/brasil/79-dos-brasileiros-nao-lembram-em-quem-votaram-para-o-congresso/
[3]
O parlamentar é um membro de um parlamento, o qual
exerce o poder legislativo. Em um sistema bicameral, os parlamentares são
geralmente divididos em deputados e senadores.
[4] O Congresso Nacional é o órgão constitucional que exerce, no âmbito federal, as funções do poder legislativo, quais sejam, elaborar/aprovar leis e fiscalizar o Estado brasileiro (suas duas funções típicas), bem como administrar e julgar (funções atípicas). O Congresso é bicameral, logo composto por duas Casas: o Senado Federal (integrado por 81 senadores, que representam as 27 unidades federativas (os 26 estados e o Distrito Federal) e a Câmara dos Deputados (integrada por 513 deputados federais, que representam o povo). O sistema bicameral foi adotado em razão da forma de Estado instalada no País (federação), buscando equilibrar o peso político das unidades federativas.
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