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domingo, 30 de dezembro de 2012

Igrejas também morrem!

Igrejas também morrem

Ricardo Gondim

Na Inglaterra, entrei em um salão de "snooker" sentindo náuseas. A vertigem que invadiu meu corpo foi diferente de tudo que já sentira antes. As mesas verdes espalhadas pelo largo espaço lembravam-me um necrotério. Eu explico o porquê. Aquele salão havia sido a nave de uma igreja, que definhou através dos anos, até ser vendido. O pastor que me levou nessa insólita visita relatou que na Inglaterra há um grande número de igrejas que morreram lentamente. Devido aos altos custos de manutenção, só restava ao remanescente negociá-las. Os maiores compradores, segundo ele, são os muçulmanos, donos de lojas de antiguidades e, infelizmente, de bares e boates. Vendo o púlpito talhado em pedra com inscrições de textos bíblicos — "Pregamos a Cristo crucificado"; "O sangue de Cristo nos purifica de todo pecado" —, voltei no tempo e lembrei-me de que aquela igreja, fundada durante o avivamento wesleyano, já fora um espaço de muita vitalidade espiritual. As placas de granito e mármore, ainda fixadas nas paredes, mostravam que naquele altar — então balcão do bar — pregaram pastores e missionários ilustres. Imaginei aquele grande espaço, hoje cheio de homens vazios, lotado de pessoas ansiosas por participarem do mover de Deus que varria toda a Inglaterra. Perguntei a mim mesmo: "o que levou essa congregação a morrer de forma tão patética?". Nesses meus solilóquios, pensei no Brasil.

Semelhantemente ao avivamento wesleyano, experimentamos um crescimento numérico nas igrejas brasileiras. Há uma efervescência religiosa em nosso país. As periferias das grandes cidades estão apinhadas de templos evangélicos, todos repletos. Grandes denominações compram estações de rádio e televisão. Cantores evangélicos gravam e vendem muitos CD's. Publicam-se revistas e livros. Comercializam-se bugigangas religiosas nas várias livrarias, que também se multiplicam, interligadas pelo sistema de franquias. Por outro lado, diferentemente do que aconteceu na Inglaterra, o despertamento religioso brasileiro tem uma consistência doutrinária rala, demonstra pouca preocupação ética e um mínimo de impacto social.

Os desdobramentos destas constatações são preocupantes. Se, com toda a firmeza doutrinária, ética e disciplina anglo-saxônica, aquelas igrejas morreram, o mesmo pode acontecer no Brasil? Infelizmente sim. As razões que implodiram inúmeras congregações européias obviamente são diferentes. Lá, houve um forte movimento anticlerical motivado pela secularização do Estado e das universidades. A teologia liberal minou o ânimo evangelístico e os processos de institucionalização do que era apenas um movimento jogaram a última pá de cal nos sonhos dos antigos avivalistas ingleses.

Quais os perigos que ameaçam o futuro do movimento evangélico brasileiro? Alguns já se mostram de forma exuberante.

A trivialização do sagrado Visitar qualquer igreja evangélica no Brasil é oportunidade para perceber uma forte tendência teológica e litúrgica na busca de uma divindade que se molde aos contornos teológicos dessa igreja e que ofereça apoio aos anseios e caprichos pessoais. Faltam temor e espanto diante de Deus. O único medo é o do pastor: de que a oferta não cubra as despesas e os seus planos de expansão. A cultura evangélica nacional está fomentando uma atitude muito displicente quanto ao sagrado. O deus que está a serviço de seu povo para lhes cumprir todos os desejos certamente não é o Deus da exortação de Hebreus 12.28-29: "Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor". O tom de voz exigente e determinante como se fala com Deus hoje deixa a dúvida quanto a quem é o senhor de quem. As experiências que só geram arrepios pelo corpo são relatadas como se Deus fosse apenas um estimulante químico. Certos pastores dizem falar e ouvir a voz de Deus — para serem contraditos pela suas próprias falsas profecias — sem levar em conta que "Deus não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão". Os milagres, aumentados pela manipulação, revelam uma falta de temor. O descaso com o sagrado é uma faca de dois gumes. Se, por um lado, demonstra grande familiaridade, por outro, gera complacência. Complacência e enfado são sinônimos entre si. Se nos acostumarmos com o mistério de Deus e trivializarmos sua presença, acabaremos colocando-o na mesma categoria de nossos encontros mais corriqueiros, daqueles que podem ser adiados ou não, dependendo de nossas conveniências. Acabaremos entediados de Deus.

O esvaziamento dos conteúdos
Uma das marcas mais patéticas do tempo em que vivemos é a repetição maçante de jargões nos púlpitos evangélicos. Frases de efeito são copiadas e multiplicadas nos sermões. Algumas, vazias de conteúdo, criam êxtases sem nenhum desdobramento. Servem para esconder o despreparo teológico e a falta de esmero ministerial. Manipulam-se os auditórios, eleva-se a temperatura emotiva dos cultos, mas não se cria um enraizamento de princípios. Gera-se um falso júbilo, mas não se fornecem ferramentas para criar convicções espirituais. Hannah Arendet, filósofa do século XX, ao comentar sobre o fato de que Eichmann, nazista, braço direito de Hitler, respondeu com evasivas às interrogações do tribunal de guerra que o julgava sobre seus crimes, afirmou: "Clichês, frases feitas, adesões a condutas e códigos de expressão convencionais e padronizados têm a função socialmente reconhecida de nos proteger da realidade, ou seja, da exigência de atenção do pensamento feita por todos os fatos e acontecimentos".

Qual será o futuro dessa geração que se contenta com um papagaiar contínuo de frases ocas que só prometem prosperidade, vitória sobre demônios e triunfo na vida?

A mistura de meios e fins
Por anos, combateu-se a idéia de que os fins justificavam os meios, porque essa premissa justificava comportamentos aéticos. Hoje, o problema aprofundou-se. Não se sabe mais o que é meio e o que é fim. Não se sabe mais se a igreja existe para levantar dinheiro ou se o dinheiro existe para dar continuidade à igreja. Canta-se para louvar a Deus ou para entretenimento do povo? Publicam-se livros como negócio ou para divulgar uma idéia? Os programas de televisão visam popularizar determinado ministério ou a proclamação da mensagem? As respostas a essas perguntas não são facilmente encontradas. Cristo não virou as mesas dos cambistas no templo simplesmente porque eles pretendiam prestar um serviço aos peregrinos que vinham adorar no templo. Ele detectou que os meios e os fins estavam confusos e que já não se discernia com clareza se o templo existia para mercadejar ou se mercadejava para ajudar no culto. A obsessão por dinheiro, a corrida desenfreada por fama e prestígio e a paixão por títulos revelam que muitas igrejas já não sabem se existem para faturar. Muitos líderes já não gastam suas energias buscando um auditório que os ouça, mas procuram uma mensagem que segure o seu auditório. A confusão de meios e fins mata igrejas por asfixia.

O livro do Apocalipse mantém a advertência, muitas vezes desapercebida, de que igrejas morrem. As sete igrejas ali mencionadas — inclusive a irrepreensível Filadélfia — acabaram-se. Resumem-se a meros registros históricos. Não podemos achar abrigo na promessa de Mateus 16 — de que as portas do inferno não prevalecerão contra a igreja — para justificar qualquer irresponsabilidade. O livro do Apocalipse adverte: "Lembra-te, pois, de onde caíste arrepende-te, e volta à prática das primeiras obras; e se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas" (Ap 2.5).

Crescer numericamente não imuniza a igreja de perigos. Pelo contrário, torna-a mais vulnerável. Resta perguntar: Será que agora, famosos e numericamente profusos, não estamos precisando de profetas? Será que o tão propalado avivamento evangélico brasileiro não necessita de uma Reforma? Aprendamos com a história. Um pequeno desvio hoje pode tornar-se um abismo amanhã. Imaginar que podemos condenar nossas igrejas a se tornarem bares de "snooker" é um sonho horrível. Porém, se não fizermos algo, esse pesadelo pode se tornar realidade. Que Deus nos ajude.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Religião é a cocaína do povo - por Ricardo Gondin

Religião é a cocaína do povo Vivi parte de minha adolescência nas décadas de 60 e 70. Naqueles anos, os Beatles e os Rolling Stones reinavam na música. Discutia-se o existencialismo de Sartre nos barzinhos de Ipanema. As mulheres se libertavam lendo Simone de Beauvoir. Che Guevara inspirava os ideais revolucionários dos latino-americanos. As drogas se tornavam uma obsessão mundial. Muitos jovens caminhavam pelas trilhas que começavam em Amsterdã, seguiam pelo Afeganistão e chegavam à Índia em busca de haxixe. A maconha deixava de ser consumida no submundo da marginalidade e dominava as universidades das Américas. Tomavam-se doses mínimas de LSD para viajar por horas no mundo alucinógeno. Os picos de heroína nas veias abreviavam a vida de milhares. Os tempos mudaram. A rebeldia dos jovens aquietou-se, os heróis comunistas ruíram, o consumismo substituiu as antigas aspirações revolucionárias e a “techno music” substituiu o rock. Aquelas drogas que entorpeciam e deixavam seus usuários num estado zen foram suplantadas por outras que ativam, energizam e potencializam. Substituíram-se os tóxicos que causavam torpor por outros que dão uma sensação de poder e de autonomia. Assim, hoje quase não se fala mais em heroína ou LSD. As drogas da moda são a cocaína e sua versão mais barata, o crack. E cresce a busca pelas sintéticas, como o ecstasy, que prometem um melhor desempenho, inclusive sexual. A religião também mudou muito. Naqueles anos, predominava entre os jovens o conceito de que a religião servia aos interesses das elites, pacificando os oprimidos. Os debates reforçavam o pensamento de Karl Marx, que em 1844 afirmou: “O sofrimento religioso é, a um único e mesmo tempo, a expressão do sofrimento real e um protesto contra o sofrimento real”. Marx acreditava que “a religião é o único suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração e a alma de condições desalmadas”. Meus contemporâneos repetiram sua conclusão: “A religião é o ópio do povo”. Marx não afirmava que a religião é um narcótico qualquer. Ele a identificava com um entorpecente poderosíssimo de seus dias: o ópio. As condições sociais perversas da Europa no século 19 condenavam os trabalhadores a pouco menos que escravos. Marx entendia que as mesmas condições produziram também uma religião que prometia um mundo melhor só para a próxima vida. Assim, tanto ele como seus seguidores difundiram que a religião não é apenas uma ilusão, mas cumpre a função social: de distrair os oprimidos. Por isso, afirmava que a religião é um narcótico que não apenas alivia a dor do trabalhador, mas também o embriaga, roubando-lhe o poder de transformar a sua realidade. Para ele, a esperança religiosa era um ópio que prometia felicidade no porvir, adiando o furor revolucionário. O pior é que ele tinha razão em suas análises. A igreja de seus dias realmente estava decadente e, aliada à aristocracia, desempenhava exatamente esse papel anestesiante. Porém, com a pós-modernidade, a religião já não cumpre essa tarefa entorpecente. No Ocidente, a proposta religiosa vem crescentemente se tornando mais parecida com um outro tóxico: a cocaína. O neoliberalismo, pai desse materialismo consumista tão bem representado no fascínio pelos shoppings e pelas grifes, entorpece como o ópio. Por outro lado, a religião de hoje procura excitar e produzir sensações de poder parecidas com a da cocaína. As igrejas neopentecostais se multiplicam prometendo que as pessoas têm o direito de ser felizes aqui e agora. Repetem exaustivamente que ninguém precisa transferir para a eternidade o que pode ser reivindicado já. Insistem na promessa feita a Israel de que o fiel é “cabeça e não cauda”. E assim o crente que freqüenta os cultos da prosperidade recebe semanalmente uma injeção de cocaína espiritual no sangue, fazendo que se sinta o dono do mundo. Mesmo que por apenas alguns minutos de culto, sonha com tudo o que os seus olhos gulosos viram as empresas de marketing anunciar na televisão. As igrejas se transformam em ilhas da fantasia capitalista. Empresários falidos, artistas em fim de carreira, jogadores de futebol malsucedidos, empregados sem qualificação correm para as infindáveis campanhas em busca de reverter a pretensa “maldição” que paira sobre suas vidas. E, depois de espoliados, são devolvidos à dura realidade da vida, obrigados a encarar a rebordosa da segunda-feira. Dependurados nos trens suburbanos ou numa fila burocrática sofrem tristes e deprimidos, assim como os foliões do Carnaval voltam para o seu destino na madrugada da quarta-feira de cinzas. Enfrentam sozinhos a dura realidade de que não são reis nem rainhas, apenas subempregados, com a tarefa de viver com um salário miserável. A própria definição do que é fé vem sofrendo enormes mudanças. Antigamente entendia-se fé como uma adesão a um conceito teológico ou mesmo como uma habilidade sensitiva de perceber o mundo espiritual. Pessoas de fé discerniam as ações de Deus e do mundo espiritual com maior acuidade. Eram pessoas que confiavam no caráter de Deus, mesmo sem evidências que comprovassem sua palavra. Hoje se entende fé como uma mera capacidade de instrumentalizar os poderes de Deus egoisticamente. Por isso, fé e cocaína se parecem muito; dão uma falsa sensação de poder e geram pessoas artificialmente soberbas. Mas a ressaca tanto da cocaína como da fé pós-moderna é horrível, pois vem sempre acompanhada de depressão e desengano. O tóxico religioso de hoje é sempre estimulante. Por isso os novos mercadores da fé precisaram redefinir, inclusive, a pessoa de Deus. A divindade pós-moderna só existe para servir os caprichos das pessoas. Os cultos se transformaram em centros de aperfeiçoamento e aprimoramento humano. As igrejas deixaram de ser espaços para se cultuar a divindade, especializaram-se em ensinar como manipular Deus. As liturgias espiritualizam as técnicas mais populares de como “liberar o poder de Deus”, “afastar encostos”, “tomar posse dos direitos”, “conquistar gigantes”. As pessoas se aproximam de Deus cheias de direitos, vontades, acreditando que são o centro do universo e que tudo e todos lhes devem obrigações. Perde-se o estado de “maravilhamento”, reverência e submissão ao Eterno. Assim o propósito de toda atividade religiosa é antropocêntrica, nunca teocêntrica. As igrejas acabam se transformando em balcões de serviços religiosos e a relação do pastor com os fiéis é a mesma do empresário com o cliente. Redobram-se os esforços para oferecer uma maior gama de atividades que agradem os clientes, que se tornaram ferozes consumidores religiosos e com um nível tremendo de exigência. Acredito que a genuína mensagem do evangelho não pode ser comparada ao ópio, como fez Marx, nem à cocaína, como fazem os pregadores da religiosidade pós-moderna. Jesus Cristo não prometeu um celeste porvir que anestesiava. Seus discípulos foram convocados a ser o sal da terra, levedar a massa, enfrentar os reis poderosos, transformar a realidade aqui e agora. Antes que se levante o sol da justiça e que o Senhor volte trazendo salvação sob suas asas, ele comissionou sua igreja a enfrentar as estruturas humanas que produzem a morte e declarar guerra ao próprio inferno. Não prometeu que nos tornaríamos os donos do mundo, ricos e prósperos. Fomos chamados para ter o mesmo sentimento que houve em Cristo, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação o ser igual a Deus, mas tomou a forma de servo, humilhando-se até à morte e morte de cruz (Fp 2.5-8). O culto não deveria ser diminuído e transformado em um centro de auto-ajuda. Não precisamos aprender técnicas que nos ajudem a obter o favor de Deus. Precisamos, sim, aprender a celebrar o seu grande amor de Pai que nos quer bem, apesar de nossa própria pequenez. Acredito que Marx estava certo quando denunciou o que acontecia com a igreja que se colocava a serviço das aristocracias. Aquela religião adoecida e morta realmente merecia a pecha de ópio do povo. Os líderes religiosos que comiam nas mesas dos poderosos e que desdenhavam da sorte dos miseráveis realmente buscavam entorpecer o povo. O que se oferece de muitos púlpitos pós-modernos não é o evangelho de Jesus Cristo, mas mera cocaína religiosa. E se algum outro filósofo ateu afirmar que essa religião pragmática que se espalha no Ocidente combina com o narcótico da moda, também seremos obrigados a concordar. Já se ouve o murmúrio das pedras. Urge que os profetas comecem a falar. Soli Deo Gloria.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Pedofilia e as desculpas repugnantes da Igreja Católica

Pedofilia e as desculpas repugnantes da Igreja Católica

Evil Pope Com toda a polémica relativamente ao abuso de crianças por todo o mundo pela parte da Igreja Católica e o seu encobrimento pela hierarquia da igreja, naturalmente — afinal, trata-se de uma organização ainda poderosíssima e com influência em todo o mundo — tem havido quem a tente defender. Várias defesas têm sido do tipo “o Papa não sabia!”, o que parece muito improvável, mas a defesa mais incrível, mais supreendente, mais chocante é esta: " os outros também o fazem!"
 “Os outros também o fazem”. Como se isso desculpasse minimamente a violação de crianças; afinal “não somos só nós”.
Mas aquilo que torna a Igreja Católica totalmente corrupta e imoral, e a hierarquia da mesma culpada de crimes hediondos pelos quais devia pagar com prisão ou pior, não é, acreditem ou não, o “mero” fato de um bom número deles violar e torturar crianças há décadas. E, sim, isto acontece em maior proporção do que na sociedade em geral — não que eles fossem minimamente desculpáveis se a proporção fosse idêntica.
Nem é “só” o fato de eles afirmarem ser a única fonte de moralidade na Terra, os representantes do criador do universo. De eles afirmarem repetidamente que são moralmente superiores aos crentes de outras religiões, já para não falar dos não-crentes.
Nem é “só” o facto de que o abuso de crianças pela parte de padres é ainda mais condenável por ser feito por quem numa posição de autoridade e confiança para com essas crianças — sendo um abuso dessa autoridade e uma traição completa dessa confiança.
Não, a parte verdadeiramente criminosa, e que condena toda a hierarquia da Igreja, incluindo o atual papa, mesmo os membros da hierarquia que nunca tenham tocado numa criança, é esta: eles tentam encobrir isto há décadas. A hierarquia Católica tem tido conhecimento de inúmeros casos de abuso de crianças pela parte de padres ao redor do mundo, e a única preocupação da mesma tem sido auto-proteger-se. Proteger a sua reputação. Não a protecção das crianças. Não a obtenção de justiça.
Nos inúmeros casos ao longo de décadas, tendo de escolher entre a protecção de crianças inocentes e a protecção da reputação da Igreja, esta escolheu sempre a segunda hipótese. Sempre que há queixas contra um padre, as queixas não chegam à polícia, nem o padre é expulso da Igreja; é simplesmente transferido para outra paróquia, onde lhe serão inocentemente confiadas novas crianças para violar. Repetir conforme necessário.
Isto é monstruoso e imperdoável. Torna toda a hierarquia Católica cúmplice das inúmeras violações de crianças. E torna a Igreja uma das organizações mais moralmente podres em todo o mundo.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Religião e Alucinação (Ricardo Gondin)


Tenho muita pena dos crédulos. Chego a chorar por mulheres e homens ingênuos; os de semblante triste que lotam as magníficas catedrais, na espera de promessas que nunca se cumprirão. Estou consciente de que não teria sucesso se tentasse alertá-los da armadilha que caíram. A grande maioria inconscientemente repete a lógica sinistra do “me engana que eu gosto”.

Se pudesse, eu diria a todos que não existe o mundo protegido dos sermões. Só no “País da Alice” é possível viver sem perigo de acidentes, sem possibilidade da frustração, sem contingência e sem risco.

Se pudesse, eu diria que não é verdade que “tudo vai dar certo”. Para muitos (cristãos, inclusive) a vida não “deu certo”. Alguns sucumbiram em campos de concentração, outros nunca saíram da miséria. Mulheres viram maridos agonizar sob tortura. Pais sofreram em cemitérios com a partida prematura dos filhos. Se pudesse, advertiria os simples de que vários filhos de Deus morreram sem nunca verem a promessa se cumprir.

Se pudesse, eu diria que só nos delírios messiânicos dos falsos sacerdotes acontecem milagres aos borbotões. A regularidade da vida requer realismo. Os tetraplégicos vão ter que esperar pelos milagres da medicina - quem sabe, um dia, os experimentos com células tronco consigam regenerar os tecidos nervosos que se partiram. Crianças com Síndrome de Down merecem ser amadas sem a pressão de “terem que ser curadas”. Os amputados não devem esperar que os membros cresçam de volta, mas que a cibernética invente próteses mais eficientes.

Se pudesse, eu diria que só os oportunistas menos escrupulosos prometem riqueza em nome de Deus. Em um país que remunera o capital acima do trabalho, os torneiros mecânicos, motoristas, cozinheiros, enfermeiras, pedreiros, professoras, terão dificuldade para pagar as despesas básicas da família. Mente quem reduz a religião a um processo mágico que garante ascensão social.

Se pudesse, eu diria que nem tudo tem um propósito. Denunciaria a morte de bebês na Unidade de Terapia Intensiva do hospital público como pecado; portanto, contrária à vontade de Deus. Não permitiria que os teólogos creditassem na conta da Providência o rio que virou esgoto, a floresta incendiada e as favelas que se acumulam na periferia das grandes cidades. Jamais deixaria que se tentasse explicar o acidente automobilístico causado pelo bêbado como uma “vontade permissiva de Deus”.

Se pudesse, eu pediria as pessoas que tentem viver uma espiritualidade menos alucinatória e mais “pé no chão”. Diria: não adianta querer dourar o mundo com desejos fantasiosos. Assim como o etíope não muda a cor da pele, não se altera a realidade, fechando os olhos e aguardando um paraíso de delícias.

Estou consciente de que não serei ouvido pela grande maioria. Resta-me continuar escrevendo, falando… Pode ser que uns poucos prestem atenção.

Soli Deo Gloria